A agonia de um discurso

“Vou fazer...”
A descrença exposta na indiferença do eleitorado e no questionamento aos candidatos aponta para mudanças no discurso de quem busca ocupar um espaço no Poder Executivo. O reconhecimento de que existem problemas básicos – são muitos – e a promessa de que haverá vontade política para resolvê-los já não basta. A sociedade amadureceu. Preferiu optar pela manutenção de um projeto que trouxe algum resultado a arriscar um plano que não se explicou.
Déficits, hospitais, rodovias, policiais, funcionários públicos, os temas encorpados com números não passou de uma tentativa de mascarar o messianismo das candidaturas que tem marcado as campanhas desde a redemocratização.
“Como fazer” é o que tem instigado as mais variadas camadas da sociedade. Deve ser esta a tônica nos próximos palanques. Para adotá-la, no entanto, além da elaboração de um programa de governo mais profundo, será preciso coragem. “Como fazer” exige revelar a metodologia, a prioridade e o passo-a-passo do projeto administrativo, expondo todo seu grupo político, tornando o candidato transparente. Estará assim mais suscetível à fiscalização do cidadão comum, agora muito mais atento a desvios éticos e legais.
O pragmatismo antes restrito aos centros urbanos contaminou os grotões. O “roubou, mas fez” derrubou caciques país afora, que não souberam responder com propostas concretas. Mas foi um ato contido. A esmagadora votação de Lula apenas no segundo turno foi um sinal cristalino.
Escancarou a lacuna no inconsciente coletivo brasileiro: não temos um estadista. O maquiavelismo pós-ditadura – e parece ser este uma das mais resistentes heranças do período – empalideceu figuras como as de Tancredo Neves e Fernando Henrique Cardoso; e manchou o atual Presidente da República.
Embora protagonistas de relevantes ações em seu tempo, pecaram no “como fizeram”.

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