![]() |
Chico Xavier |
" Juntos num só ritmo", o slogan para a Copa do Mundo, foi finalizado depois de um ano e meio de trabalho, segundo o Comitê Organizador Local. Está escolhido, não muda mais. O que não quer dizer, no entanto, que seja perda de tempo discuti-la.
Na preocupação em gerar um conceito a ser bem entendido por brasileiros e estrangeiros, a ideia original se diluiu, expondo a fragilidade da compreensão que se tem do Brasil e escorregando para o lugar comum de se ver sob o ponto de vista do colonizador.
“Juntos num só ritmo” chega a destoar do logotipo, que tem três mãos distintas, simbolizando a base da formação do povo local. No slogan, a agência criadora, a brasileira Aktuell, manteve o olhar estrangeiro que impera desde o período das grandes navegações, a de um povo exótico espalhado por imenso território.
A simplificação não expressa a imagem real, uma enormidade de ritmos convivendo em harmonia, entremeada por tolerância, admiração e curiosidade. Este traço típico foi forjado com dor e castigo, porém, está consolidado.
Se há uma diferença marcante entre Brasil e outras nações, é a relação pacífica entre as centenas de culturas que se chocam de maneira até beligerante em outras regiões do planeta, como revela de jeito óbvio o sincretismo religioso.
A cultura nacional não é a mistura de diferenças que resulta em algo único, é única no movimento de aglutinação e separação, levando cada uma das partes elementos da outra. Tivessem pensado na antropofagia, palavra-chave dos últimos mais importantes movimentos culturais do país, a Semana de 22 e a Tropicália, talvez os criadores preferissem harmonia a ritmo.
“Juntos num só ritmo” (All in one rhythm) provavelmente expressaria melhor o objetivo se fosse “Juntos em todos os ritmos” (All in all rhythm).
Como ficou, ao menos combina com a escolha das sedes da Copa das Confederações, quase todas no litoral ou próxima das minas gerais (para a Fifa, Brasília é a mina atual), como se instalaram os europeus no século XVI.
Por este ângulo, ironicamente fez sentido que o anúncio coubesse ao francês Jérôme Valcke, o secretário-geral da FIFA, na capital da França Antártica, fundada pelo antepassado conterrâneo almirante Coligny.
0 Comentários