Contra a corrente




                                                                  Foto: Paulo Whitaker/Reuters
Duvido muito que o autor da pichada obra Monumento às Bandeiras lamentasse ou protestasse contra o ataque dos índios. Desse papel se ocuparia o conservador Monteiro Lobato em artigo n’O Estado de São Paulo (uma “licença poética”, pois Lobato morreu em 1948. A escultura, inaugurada em 1953).

O mais provável é que Victor Brecheret convocasse sua mecenas Olívia Penteado e os colegas modernistas Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Oswald e Mário de Andrade a celebrar o mais autêntico ato de antropofogia. A pista está no próprio trabalho, onde índios e escravos expressam contrariedade ao comando dos portugueses.

                                                           Foto: Felipe Rau/ Estadão
Os manifestantes não tocaram fogo no Parque do Ibirapuera, logo do outro lado da rua. Não apedrejaram o prédio da Assembleia Legislativa, o Obelisco  ou o Memorial dos Constitucionalistas, a cerca de 200 metros, nem sequer se aproximaram dos prédios arquitetados por Oscar Niemeyer, também próximos. Tingiram de sangue e classificaram de assassina a representação dos que lhe tomaram as terras, estupraram suas mulheres e lhes impuseram outra cultura.
É muito diferente da condenável invasão do Itamaraty em junho deste ano, por exemplo.

O significado do ato seria melhor compreendido se ocorresse no primeiro mundo. Em 1968 os estudantes parisienses arrancaram as pedras históricas do calçamento para atirar nos policias. O gesto se tornou um dos símbolos da revolução por novos costumes.

Os índios  e as ONG's do setor protestam contra o Projeto de Emenda Constitucional que dá ao poder legislativo o controle sobre a demarcação de terras indígenas. Em São Paulo, reivindicam o reconhecimento de ocupação de uma área que abrange manancial ameaçado por polêmico projeto de construção de um novo aeroporto.

Como o ato da minoria étnica não consta no manual do Occupy Wall Street, foi jogado na vala comum do vandalismo mesmo pelos intelectuais mais liberais, simbolizando que a opressão dos “descobridores” segue firme e forte.

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