Por uma elite enxuta


É um alento no combalido futebol brasileiro ver o Cruzeiro com justiça conquistar o Campeonato Brasileiro. Se tem futebol suficiente para encarar de igual pra igual os grandes do mundo é outra conversa, e não passaria de suposições, comparações teóricas, pois o campeão também mostrou irregularidade. Não foi prejudicado por elas porque o nível geral segue baixo e há um grupo de jogos fáceis que ele não desperdiçou, mantendo-se à frente na tabela desde as primeiras rodadas. 
 É uma incógnita aonde poderia chegar o grupo comando por Marcelo Oliveira caso tivesse mais tempo de treino  e sofresse menor desgaste com tantas viagens e jogos. O mesmo raciocínio vale para os adversários diretos na temporada, como São Paulo, Corínthians, Internacional e poucos mais.

Poucos

Poucos, eis a questão. É fato que a evasão prematura de craques impede número grande de bons e competitivos times, bem como a alta valorização de técnicos e jogadores, empecilho para formação e manutenção de um time em alto nível. Em nome dos custos, do espetáculo e do faturamento, a elite do futebol nacional deveria ser mais seleta.  A rigor, os 12 primeiros na tabela representam sete dos principais estados no futebol. Na última rodada Goiás perdeu posição para Santa Catarina, de menor tradição, o que torna a disputa empolgante. Da lista, ficam de fora a Bahia e o Ceará, por seus próprios deméritos.

A ascensão de quatro equipes da série B, com raras exceções, acrescenta pouco à qualidade do torneio. Bastaria o campeão.  A série A enxuta, sem a extensa zona morta do meio da tabela, com queda de um ou dois dos piores colocados contribuiria mais para o futebol em todos os sentidos.
Disputado apenas no segundo semestre, com algo em torno de 22 a 26 jogos, nos melhores estádios, com preço justificadamente maior de ingressos, maior mobilização das torcidas e concentração dos recursos provenientes das transmissões parece a solução mais lógica para a crise que encontra paliativos no aporte de verbas do Estado, seja via patrocínio de estatais, ou perdão de dívidas, como agora se discute no projeto de responsabilidade fiscal do esporte.

Cascata

A redução da elite tem o poder de fortalecer e valorizar as divisões inferiores, tornando atraentes, rentáveis e de ganho de qualidade mesmo as séries C e D.
O salto que falta ao chamado campeonato mais difícil do mundo é justificar a fama pela qualidade no gramado, não pela dificuldade de cumprir a agenda. Não há necessidade de injeção significativa de recursos, mas considerações técnicas em detrimento da politicagem rasteira que beneficia uns poucos clubes em prejuízo de um campeonato, recheado de partidas insignificantes.

Brasileirão e Copa do Brasil

O país já conta com um torneio de caráter representativo e democrático com função não menos importante de integrar e proporcionar a troca de conhecimentos entre as escolas regionais, bem como de revelar novos talentos, a Copa do Brasil. Aliás, este sim deveria se chamar Campeonato Brasileiro. A Copa do Brasil seria a nata do futebol, servida apenas às tardes de domingo, desfrutada pela TV e, porque não, nos estádios por quem pode pagar ou tem acesso ao Vale Cultura.

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