Descobertos novos desaparecidos do regime de 64

 Dois corpos encontrados na vala clandestina do cemitério de Perus foram identificados por comissão da USP e do Ministério dos Direitos Humanos


Dois desaparecidos políticos da ditadura militar brasileira foram identificados na Vala Clandestina do Cemitério Dom Bosco, em Perus, São Paulo, conforme anunciado pela Comissão Especial Sobre Mortos e Desaparecidos do Ministério dos Direitos Humanos e pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) na quarta-feira (16/4) .

Grenaldo de Jesus da Silva: militar da Marinha e militante contra a ditadura

Grenaldo ( Reprodução/Museu da Resistência)

Grenaldo de Jesus da Silva nasceu em 17 de abril de 1941, em São Luís do Maranhão. Ingressou na Escola de Aprendizes Marinheiros do Ceará em 1960 e, em 1964, foi preso e expulso da Marinha por sua participação política em defesa do presidente João Goulart e por reivindicar melhores condições de trabalho para os militares. Condenado a cinco anos e dois meses de prisão, ele fugiu e viveu na clandestinidade em São Paulo.

Em 30 de maio de 1972, Grenaldo foi morto durante uma tentativa de sequestro de um avião da Varig no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo. A versão oficial da época alegava que ele teria se suicidado com um tiro na cabeça após o plano frustrado, mas relatos e investigações recentes indicam que foi executado por agentes do Estado, que usaram gás lacrimogêneo para invadir a aeronave. Seu corpo foi sepultado como indigente no Cemitério Dom Bosco em 1º de junho de 1972, permanecendo desaparecido até sua identificação pelo Projeto Perus.

Dênis Casemiro: pedreiro, trabalhador rural e militante da VPR

Dênis ( Reprodução/Comissão da Verdade)

Dênis Casemiro, natural de Votuporanga (SP), trabalhou como pedreiro e agricultor antes de se engajar na luta armada contra a ditadura pela Vanguarda Popular Revolucionária (VPR). Preso em 1971, foi torturado e executado por agentes do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) de São Paulo, sob o comando do delegado Sérgio Fleury. Na época, as autoridades forjaram a versão de que Denis teria morrido ao tentar fugir, mas documentos e testemunhos posteriores revelam que ele foi assassinado.

Seu corpo também foi enterrado na vala clandestina do Cemitério Dom Bosco, onde permaneceria desaparecido até a recente identificação pela equipe do Projeto Perus.

Descoberta de vala clandestina tem 35 anos

A Vala Clandestina do Cemitério Dom Bosco, localizada na zona noroeste da capital paulista, foi utilizada para o sepultamento de pessoas indigentes, desconhecidos e opositores do regime militar instaurado em 1964. Os ossos remanescentes foram descobertos em 1990, mas somente recentemente, com avanços nas técnicas de identificação foi possível reconhecer os restos mortais de vítimas como Grenaldo e Denis.

Essas identificações representam um passo importante para a reparação das vítimas da ditadura militar e para o reconhecimento da luta de cidadãos que resistiram à opressão em busca de democracia, justiça social e direitos humanos.

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