Sonora Ibirapuera (Quando o tiro acerta Priscila)

O pequeno bando de maritacas cria uma algazarra anacrônica diante das fachadas espelhadas que me emparedam. Protegem-se umas as outras revezando o comando de reconhecimento do território. Aquelas árvores não estão mais, nem são. Estas, não parecem seguras, entremeadas de ardilosos fios. Gritam, explodem de tensão. Abafam o sino engolfado da igreja do largo, insistente e mal ressoado, talhado pelos volumosos concretos jorrados a uma altura incrível para a centenária torre que o abriga. Sussurra e acena desesperançado o sino ao jato no ronco macio do quase pouso. Entre os dois, as aves por pouco não se delatam por estridência. Mas não têm fôlego para solar a base aguda das sirenes oficiais. Seu crescente e monótono som desta vez, e só desta vez, calou as buzinas intermitentes do meio do caminho. Porque fora precedida de estampidos. Secos, espaçados, sem ritmo nem qualquer melodia estampidos. As maritacas se calaram. Ouviu-se na congestionada avenida o sapateado nervoso de suaves solados de borracha em várias direções. Um gemido brotara do solo. O arrepiante fiapo de voz do quando a dor já não importa. Tão baixo, tão curto o balbucio da menina que acabou ecoando bem longe via satélite.
As ondas comoveram por segundos e dissolveram para sempre o horror, o choque e a indignação. As buzinas não esperaram a dispersão das sirenes e o sino não tocou. Envergonhadas, as maritacas se dissiparam silenciosas.

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1 Comentários

  1. Anônimo10:29 PM

    Sou uma leitora assidua do seu Blog e gostaria de expressar meu entusiasmo ao ler seu ultimo texto “Sonora Ibirapuera”.
    Brilhante, este me transportou pra um novo cenario criado e decorado por um caprichoso escritor, la me enturmei com as maritacas me identifiquei com o desesperancado sino, emocionei com o gemido e me arrepiei com o arrepiante fiapo de voz. . .depois um silencio sufocante me touxe devolta ao meu mundo, eram 3:25pm no escritorio, um trabalho monotono e continuo.

    Amigo escritor,

    Obrigada por quebrar minha rotina.


    Laura Lopes

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