Império colonizado

Portugal agora pode desistir de brigar contra seu estereótipo pessimista. O acordo com o FMI vai não só deixar muitas das velhas mães com as barbas de molho, mas, muito provavelmente também seus filhos, graças aos cortes nos vencimentos de boa parte dos aposentados e nos investimentos sociais. Para emprestar os tais 78 bilhões de euros, a "troika" ( palavra russa que significa trio, neste caso formado pelo FMI, Comunidade Europeia e Banco Central Europeu) exigiu que o parlamento luso se transforme em um grande PSD brasileiro (nem de direita, nem de esquerda, nem de centro) ao menos no que diz respeito à condução da economia. O que significa mandar às favas os projetos ideológicos de quem quer que seja.


Emparedar o crescimento com o aumento de impostos e a redução das despesas parece o óbvio para quem tem mais de 90% do PIB em dívidas, mas é necessário lembrar que neste sistema no qual Portugal foi metido o mais lógico é rolar os vencimentos, como pressupõe a cartilha do liberalismo globalizado e exatamente como agem os EUA agora, o que de certa forma o demissionário José Sócrates tentou fazer ao reduzir o aperto.

E de aperto os lusitanos entendem bem. Até se integrarem à Comunidade Europeia, em 1986, a economia baseada na agricultura e na remessa de divisas por parte dos emigrantes era o motor do consumo e da sobrevivência da população. Relata Elio Gaspari em um de seus volumes de “ O Sacerdote e o Feiticeiro” que na década de setenta do século passado cerca de um milhão de jovens entre 18 e 35 anos, entre uma população de pouco mais de 8 milhões de habitantes, emigraram principalmente para a Alemanha e a França. Com um salário mínimo francês, eles tinham renda superior a de mais de 90% de seus conterrâneos. Enviavam para casa o equivalente a 70% das exportações do país.

No bem humorado clip em que tentam convencer a Finlândia a apoiar o acordo com o FMI , lembram uma estatística que remonta dessa época, a de que a segunda maior população portuguesa vive em Paris.

O quadro só não era exatamente como o brasileiro por conta dos 425 milhões de dólares gastos no emprego de 150 mil homens pelas forças armadas na vã tentativa de manter o controle sobre as colônias africanas.

Nesta espécie de espiral histórica, em que o passado volta a incomodar de uma nova maneira, o retrato mais fiel talvez seja “Movimento Perpétuo Associativo”, do  grupo neofadista Deolinda.

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