O último hit

Imagino Arrigo Barnabé, o paranaense agressivo e ousado da vanguarda paulista pré-queda do muro de Berlim, repetindo ininterruptamente com a voz rascante em tom acusatório “ Fofos!Fofos!”, apontando para os conterrâneos pós-parada gay ao ouvir Oração.

A Banda Mais Bonita da Cidade merece respeito pela coragem de se exibir ainda tão crua sem o menor pudor. Deixa a suspeita de que se trata de um charme indie cuidadosamente estudado, o plus necessário para o grupo curitibano bombar na rede. Mas as letras não negam a falta de tempo ou paciência para lapidação, embora tenham passagens solares.



Os clipes são bem fotografados e dirigidos demais para um grupo de garagem. Antes que alguém pense, o compositor e vocalista Leo Fressato vai de cara anunciando que a multinacional Beirut é a referência maior. Particularmente, eles me soam mais próximos ao Belle & Sebastian.


Deixando de lado a aculturação e a estratégia de venda, a Banda Mais Bonita da Cidade faz mesmo é música brasileira. Exibe a pureza primitivista de uma canção folclórica, com a delicadeza mais bem realizada por gente como Marisa Monte.


A vocalista Uyara Torrente ainda não mostrou domínio de seu talento. O som da banda não traz nada de surpreendente, não soa original como quer fazer acreditar. Mas está tudo tão bem encaixado, e armado, que gruda na camada sensorial do ouvinte.


Esta característica não lhes foge nem quando os músicos esbarram nos conceitos da Lira Paulistana, a turma “cabeça” da São Paulo dos 1980. A melodia fala mais alto que a recitação e a teatralidade típicas daquela época, como em Mercadoramama.

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