Grave e agudo

A geração Coca-Cola - quarentona - conecta-se aos adolescentes para lembrar a morte do roqueiro Renato Russo. Quinze anos após seu fim,  a Legião Urbana se consolida como mito.


Em 1981, quando o poder central deixava entrever todas as manhas do jogo sujo em malogrado atentado contra manifestações no primeiro de maio no Riocentro, suas crianças já tramavam a derrubada do rei. Da árida e decadente atmosfera da capital federal o vocalista e letrista da banda extraiu versos que a maioria de jovens e adolescentes não queria ouvir, queria dizer...

O tom grave de sua voz desentalou a garganta de toda a geração que aprendeu a ler na cartilha orientada pelo regime militar. Aquela que gritou pelas diretas já, descobriu as academias de ginástica e o cultivo à imagem pessoal, mas não identificava a própria voz, perdida em algum lugar entre o fim da MPB de resistência e o pop nonsense.
 No novo rock brasileiro, só Cazuza foi tão simples, agudo e sensível com nas letras. E, condição vital para perpetuação, atemporal. Os adolescentes tem mais que a morte para torná-lo um ídolo.


Renato Russo se impôs seguindo pela contra mão. Muito distante dos padrões de beleza, era também introspectivo e descuidado. Foi de um namorado gay de Los Angeles que contraiu o vírus da Aids. Talvez não acreditasse que o mundo tivesse mudado.

A morte do líder e o fim da banda, em 96, foi lembrada pelos Paralamas do Sucesso no último Rock in Rio como a maior banda de rock do país em todos os tempos.
As músicas da Legião Urbana são regravadas por vários artistas.
Até a proliferação da música digital, quando as estatísticas no setor eram mais confiáveis, os dez títulos vendiam, de acordo com a gravadora, 360 mil cópias por ano. Mais do que o grande mito do rock brasileiro, Raul Seixas, e três vezes além da vendagem anual dos Beatles no Brasil.

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