Especulando com a democracia

Aos estrangeiros pode parecer estranha a conduta do primeiro ministro Georges Papandreou submeter à consulta popular o acordo com base na fórmula da Troika, mas nada poderia ser mais grego que isso.

Se um motorista for pego falando ao celular enquanto dirige o guarda de trânsito o notifica. O infrator tem o direito de se explicar ao departamento responsável antes que a multa seja efetivada. Se for convincente, pode escapar da pena.

É a democracia entranhada na cultura de seus inventores, embora às vezes embaçada por alguns governantes.

O mercado se agita porque não gosta de estar no comando, nem de surpresas, mas não deveria duvidar de que o governo que pode ter a dívida perdoada em mais de 50 % se mobilizará para que o acordo seja cumprido.

Papandreou aposta até o mandato na aprovação. Submeterá sua gestão a um voto de confiança no parlamento. Precisa de 151 em 300 votos para se manter. O partido dele, o socialista Pasok, tem 153 assentos. Se tiver sucesso na estratégia de dividir com os cidadãos a responsabilidade de adotar as medidas impopulares impostas pelo acordo, sai da crise mais forte do que entrou.

Para boa parte dos agentes financeiros, os que especulam no curto prazo, a ideia do plebiscito é uma oportunidade de ganhar. Para cima ou para baixo, qualquer movimento brusco gera satisfação e dinheiro.

É só isso. O tamanho do buraco em que se meteu a economia europeia não cresceu. Tampouco surgiu a luz no cenário econômico mundial.

A turbulência é causada pela ansiedade dos bancos em reaver logo os 100 bilhões de euros de calote que tomaram no acordo com a União Europeia, à parte 30 bilhões de garantia oferecidos pelos governos.

Portanto, apesar da queda neste início de semana, não estranharia ver o preço das ações subir até o fim do ano. Com muitos solavancos, bem ao gosto dos especuladores.
 A democracia como objeto de especulação talvez nunca tenha rendido tanto em tão pouco tempo, muito menos servindo ao mesmo tempo a socialistas e capitalistas.

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