SP 459: Português do portão pra dentro, italiano do portão pra fora


O sotaque paulistano cria a falsa impressão de que os imigrantes italianos dominaram São Paulo desde o início do crescimento da metrópole.
A Proclamação da República, em 1889, relegou os portugueses a símbolo do passado monárquico e, como tal, segundo alguns historiadores, motivo da pecha de velhos e ultrapassados. Para os estudiosos, eis uma das explicações para inspirarem tantas troças e piadas. Seria também a justificativa para o Padre Anchieta tomar de Manuel da Nóbrega a fama de fundador de São Paulo.
No processo de industrialização, a partir do fim do século XIX, a organização dos trabalhadores é creditada comumente apenas aos italianos. Se trouxeram na bagagem os modelos anarquista e comunista de organização sindical, tiveram disputas acirradas, às vezes violentas, com grupos de portugueses, com quem dividiam o posto de líderes em número de imigrantes. As duas nacionalidades representavam, cada, cerca de 30% do total de estrangeiros aportados na capital.  
Juntas, encabeçavam as listas negras dos patrões, no que eram acompanhadas de perto por espanhóis.
Portugueses da porta para dentro

Devido a facilidade com o idioma, os portugueses, então maioria entre os operários da construção civil, passaram também a ocupar a condução dos bondes e os balcões do comércio no centro da cidade.  Pelo mesmo motivo, suas mulheres -  40% dos contingente luso instalado na região na segunda década do século XX -  predominaram no mercado de trabalho doméstico,  como cozinheiras, lavadeiras e passadeiras.  O contato direto com a elite as permitiu aumentar a renda familiar vendendo bolos, doces e outros quitutes de porta em porta.
Italianos da porta para fora

A experiência conjunta foi fundamental para a supremacia das receitas lusitanas na mesa do desjejum e do café da tarde paulistana. Além disso, contribuiu de forma decisiva na consolidação de um dos mais tradicionais costumes dos habitantes locais, o café na padaria. 
 Os italianos sobrepuseram-se quando os portugueses trocaram o Brasil por outros países da Europa e pelas colônias na África, já após a segunda guerra mundial, terminada em 1945. Mas já haviam fincado bandeira dentro das casas paulistanas, graças à proximidade cultural. Mais barulhentos e festeiros, os italianos influenciaram do portão para a rua.

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