O sotaque paulistano cria a falsa impressão de que os
imigrantes italianos dominaram São Paulo desde o início do crescimento da
metrópole.
A Proclamação da República, em 1889, relegou os portugueses a
símbolo do passado monárquico e, como tal, segundo alguns historiadores, motivo
da pecha de velhos e ultrapassados. Para os estudiosos, eis uma das explicações
para inspirarem tantas troças e piadas. Seria também a justificativa para o
Padre Anchieta tomar de Manuel da Nóbrega a fama de fundador de São Paulo.
No processo de industrialização, a partir do fim do século
XIX, a organização dos trabalhadores é creditada comumente apenas aos
italianos. Se trouxeram na bagagem os modelos anarquista e comunista de
organização sindical, tiveram disputas acirradas, às vezes violentas, com
grupos de portugueses, com quem dividiam o posto de líderes em número de
imigrantes. As duas nacionalidades representavam, cada, cerca de 30% do total
de estrangeiros aportados na capital.
Juntas, encabeçavam as listas negras dos patrões, no que
eram acompanhadas de perto por espanhóis.
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Portugueses da porta para dentro |
Devido a facilidade com o idioma, os portugueses, então
maioria entre os operários da construção civil, passaram também a ocupar a
condução dos bondes e os balcões do comércio no centro da cidade. Pelo mesmo motivo, suas mulheres - 40% dos contingente luso instalado na região
na segunda década do século XX - predominaram
no mercado de trabalho doméstico, como
cozinheiras, lavadeiras e passadeiras. O
contato direto com a elite as permitiu aumentar a renda familiar vendendo bolos,
doces e outros quitutes de porta em porta.
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Italianos da porta para fora |
A experiência conjunta foi fundamental para a supremacia das
receitas lusitanas na mesa do desjejum e do café da tarde paulistana. Além
disso, contribuiu de forma decisiva na consolidação de um dos mais tradicionais
costumes dos habitantes locais, o café na padaria.
Os italianos sobrepuseram-se
quando os portugueses trocaram o Brasil por outros países da Europa e pelas
colônias na África, já após a segunda guerra mundial, terminada em 1945. Mas já
haviam fincado bandeira dentro das casas paulistanas, graças à proximidade
cultural. Mais barulhentos e festeiros, os italianos influenciaram do portão
para a rua.
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