Margareth Thatcher morreu sem preencher o grande vazio que criou.
O segundo dos dois maiores pilares da onda neoliberal que
dominou do segundo terço do século XX até a primeira década do XXI – Ronald Reagan,
ex-presidente dos Estados Unidos, o outro -
por ironia deixa este mundo numa convulsão tão grande quanto encontrou
quando assumiu o posto de primeira-ministra, em 1979.

Logo no início do mandato esvaziou o contrato social, com
redução de direitos trabalhistas e dos mecanismos de proteção social, como
seguro-desemprego e previdência. A moeda foi desvalorizada, o parque industrial
decadente, incentivado a se modernizar, com garantia de lucro sob qualquer
condição.
As medidas não recuperaram a Grã-Bretanha como a potência industrial
que havia sido no século XIX, mas garantiram os empréstimos do FMI e renovaram
a elite econômica da ilha através da privatização das telecomunicações, da
energia e da desregulamentação do sistema financeiro. As medidas foram tomadas
na esteira de sua popularização com a vitória na guerra das Malvinas, sufocando
o movimento punk, organizado pela juventude sem mercado de trabalho que
procriou cerca de 30% da infância abaixo da linha de pobreza no fim de seu
último mandato, em 1990.
A queda no déficit público e o fortalecimento do mercado
financeiro, no entanto, fizeram da Dama de Ferro vedete de um modelo que privilegiou a prática em detrimento de uma filosofia, modelo que não seria
exagero classificá-lo como responsável pelos solavancos característicos da
economia e do comportamento nas últimas décadas.
O conservadorismo alimentado por sua práxis e turbinado por
Reagan gerou os dois polos mais indigestos da atualidade, o radicalismo de
extrema direita e o movimento politicamente correto.
Margareth Thatcher deixa este mundo obrigando aos que abandonaram a discussão ideológica a
repensarem um novo modelo de contrato social, não mais restrito à relação
capital-trabalho, mas também às relações entre grupos sociais e Estado, além
destes entre si. E sem capacidade de opinar devido a demência que lhe abateu no
fim de seus 87 anos.
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