Pela privatização da responsabilidade social


Os números oficiais sobre o transporte público em São Paulo são tão redondos que carecem de investigação. Mas são os disponíveis para avaliação rápida e leiga:

A prefeitura paulistana calcula em R$ 32 mil/mês o custo da operação de um ônibus em São Paulo. Isto significa, com passagem a R$ 3,00, 10.667 passageiros por ônibus/ mês.

 O número de usuários, de acordo com a SPTrans, mais que dobrou nos últimos 10 anos. Saltou de 1,2 bilhão de passageiros transportados em 2003 para quase 3bilhões em 2012. Divididos pelos 15 mil ônibus que os dados oficiais afirmam circular na região, são 16.667 passageiros/ mês em média por ônibus, somados usuários isentos e de meia tarifa.

Levando em consideração a inflação desde o início do plano real, em 1994, quando o paulistano pagava R$ 0,50 pela passagem, o IPCA subiu 332% até 2013, enquanto a passagem foi majorada em 540%. Sem levar em consideração o aumento de passageiros, para não mudar nada, a passagem indexada à inflação deveria custar R$ 2,16 ao consumidor.

Os protestos nas ruas, como temos ouvido, vão além do reajuste. Questionam a perversidade da proporção do sistema de cobrança e a moralidade da administração pública. Além do lucro, cabe ao usuário pagar a maior parte dos custos, como afirmou o prefeito Fernando Haddad?

A revogação do aumento em São Paulo exigiria mais R$ 250milhões em subsídios, totalizando R$ 1,5 bilhão. A isonomia no rateio das despesas, como em outros países, talvez pudesse ser coberta pela redução da margem de lucro. Talvez, pois esta margem é segredo.
Responsabilidade Social
Lucro não é crime, porque não abrir a planilha e analisar a possibilidade da elite empresarial do país participar do desenvolvimento da nação ao menos auxiliando no combate à inflação?

 Relembremos  declaração do prefeito paulistano, afirmando que no exterior o custo da passagem é dividido em 33% para a empresa, 33% para o poder público e 33% para o usuário. Segundo ele, em São Paulo, a empresa banca 10% , o poder público, 20% e o usuário 70%.

Quer dizer que a empresa subsidia o sistema com R$0,30, a prefeitura e o estado, com R$0,60 e o usuário com R$ 2,10, margem de lucro não revelada incluída.

Seguindo o raciocínio, pelo modelo estrangeiro caberia ao usuário pagar R$1,00 pela passagem no preço cheio. Como o custo real é menor, e supondo uma generosa margem mínima de 20% de lucro bancado exclusivamente pelo usuário, tendo por base o preço atual, se a passagem de ônibus em São Paulo custasse R$ 1,60 já seria muito, sem precisar tirar dinheiro de lugar nenhum nem aumentar as desonerações, apenas aprimorar o conceito de responsabilidade social, estendendo-o ao setor privado.

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