O Movimento Passe Livre, através do
integrante Lucas Monteiro, anunciou o abandono das passeatas de protestos.
Segundo o professor de 29 anos, o objetivo de reduzir as tarifas de ônibus foi
atingido.
Definitiva ou não a decisão, é sensata. Se a turba em
Brasília não bancou a entrada no poder legislativo, cuja porta por direito
democrático é livre e foi autoritariamente trancada, a manifestação deixa a
objetividade e se torna uma mobilização manipulada, covarde. A depredação do
Itamaraty é uma violação cruel à história e à cultura brasileira. Se não foi
todo o tempo impoluta, a diplomacia nacional é um exemplo admirável dos nossos
melhores ideais de respeito a autonomia e liberdade individuais e institucionais
internamente e além da fronteira.
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Itamaraty violentado Foto:Gustavo Froner/Reuters
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Os protestos estão se distanciando da razão, tomando forma
de estouro de manada, sujeitos aos interessados em criar instabilidade
institucional. O representante do MPL falou em grupos fascistas se apoderando
da mobilização. O adjetivo está banalizado, mas, de fato, a ditadura militar
tinha inspiração no modelo alemão e, embora recuados na democracia, seus
adeptos estão tão vivos quanto os inimigos de esquerda que hoje chegaram ao
poder.
Quase 20 anos de social-democracia trouxe avanços consideráveis
ao país. Embora não tenha alterado a moralidade almejada na política, descartá-la
desta forma é retroceder ao período mais sombrio de nossa história desde o fim
da colonização. Desta vez, porém, em conflito doloroso contra os beneficiados
pela rede de proteção social.
O avanço da democracia requer mobilização organizada em
torno de propostas viáveis e bem definidas. Além disso, consciência e
informação bem fundamentada. Passa ao largo da mobilização a proposta aprovada
no início do mês de junho por uma comissão especial do Congresso, prevendo
eleições indiretas em caso de vacância nos cargos de presidente e
vice-presidente a menos de dois anos do final do mandato.
Para quem não está familiarizado com a expressão, eleição
indireta no caso são os senadores e os deputados escolhendo o novo Presidente
da República, obviamente um nome entre eles.
Em política a coincidência habitualmente é resultado de
articulações.
Não vale a pena pagar pra ver se são fantasmas, pois o preço
da reconquista da liberdade é alto.
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