Fé cega, faca amolada


O Atlético conquistou o título como se jogasse propositadamente um dado viciado, apostando contra o resultado certo para debochar da sorte.

Seus pupilos dizem que foi coisa de Deus, o técnico Cuca tem certeza que foi Nossa Senhora.  Particularmente, creio que a lealdade esportiva dos dois últimos adversários foi o agente fundamental do milagre. Em uma Guerra do Chaco os paraguaios talvez não abrissem grande vantagem em próprio território, mas dificilmente sofreriam o revés. Os confrontos finais aprimoraram a Libertadores.

Cuca: de azarado folclórico..
A equipe mineira sucumbiu ao peso da falta de grandes títulos, virou o fio, mas resgatou suas qualidades no último momento. No segundo tempo do jogo derradeiro voltou a exibir a superioridade esbanjada na primeira fase da competição.


... a lenda mineira.
 
 
Retomou a paciência do toque de bola e domínio no meio de campo, aguardando o tempo certo para penetrar na barreira defensiva do Olímpia. Controlou o ritmo e a posse de bola, dominando a ansiedade dos lançamentos diretos da defesa ao ataque, até tentou criar pelos flancos, puxando a marcação para dar espaço aos atacantes no meio.
Foi recompensado com a expulsão de Manzur, não definindo o resultado no tempo regulamentar  por falta de pontaria, a porção que faltou de frieza e autocontrole.

O time comandado por Ever Almeida  sentiu o golpe do segundo gol e da expulsão. No entanto, manteve lucidez suficiente para contra-atacar e arrebatar o título, no drible de Ferreyra no goleiro Victor, tropeçando na responsabilidade quando restava apenas empurrar a bola para a rede.

A partir daí, tratou de catimbar o tempo arrastando a decisão para os pênaltis,  única possibilidade consciente de roubar a vitória do Galo.
Ronaldinho se rende à realidade

O goleiro alvinegro burlou a regra se adiantando na cobrança de Miranda. Porém, fez justiça surrupiando de Ronaldinho a imagem heroica de selar a conquista. Individualmente ele foi mais importante na fase decisiva que o atacante.

A quarta conquista consecutiva de um clube brasileiro da competição principal do continente coincide com a evolução do torneio.

A violência dentro de campo não terminou, mas diminuiu. Atrás das quatro linhas persiste a selvageria de paus, pedras e foguetes mortais. Contudo, a Libertadores sem dúvida se aperfeiçoou tecnicamente, para sorte do Atlético Mineiro.

Na brutalidade do sufoco de um fruto abafado em saco plástico, Cuca, Ronaldinho e companhia também amadureceram, cobrindo com véu de fé a história que será contada pelo resto da vida dos atleticanos.

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