Deus e o diabo


Onde Deus nasceu não é sabido, mas cresceu e se formou no Oriente Médio. Arquitetou lá o paraíso, assegurando à sua direita ou cercando de virgens e potes de mel aqueles que se sacrifiquem por seus princípios.

Contra os fundadores da vida eterna e do paraíso a Comissão de Relações Exteriores do Senado dos EUA aprovou uma guerra de 60 dias, extensível a mais 30, se necessário.

 Dez votos a sete, apertado pelo interesse da oposição em piorar a situação complicada do presidente.  O argumento principal do Secretário de Estado John Kerry para arrebanhar os opositores foi considerar o arsenal químico da Síria um risco à segurança nacional. Diplomatas russos, contrários à invasão antes da confirmação sobre o autor do ataque químico, tiveram um pedido de audiência negado pelo presidente da Câmara, John Boehner.


A postura é emblemática. Caso a invasão ocidental se concretize, está desenhado mais uma vez o quadro da derrota.

 Centrados em seus objetivos diretos, fronteiras e riquezas minerais, desconsiderando a cultura local, os EUA estão fadados a outra visita ao inferno, como acontece desde a guerra do Vietnã. Ao subestimarem a capacidade de movimentação dos pequenos soldados inimigos na floresta, recorreram ao napalm, categoria de arma que justifica o ataque a Bashar al-Assad.

Menos de dez anos depois “atolaram” nas areias do Irã dois helicópteros na operação de resgate de funcionários da embaixada em Teerã. Surpreendido por islâmicos dispostos a ocupá-la, o plano cuja execução estava prevista para algumas horas durou mais de 400 dias, com soldados e um refém mortos.

Na Somália, em 1993, a tropa de elite norte-americana foi emboscada numa operação de pretexto humanitário. Passaram da centena os mortos.

O desastre no Iraque gera agora a incompreensível e demagógica invasão sem tropas.

Quem é da geração de jogos de tabuleiro e já brincou com o War sabe da impossibilidade de conquistar territórios só com aviões. Sem contar que, drone por drone, 11 de setembro é o mais doloroso de todos os conflitos desde a secessão.

Obama está encurralado por sua linha vermelha, o refugo da Grã-Bretanha e o vazamento do esquema de espionagem no âmbito internacional. No limite, causaria mesmo uma guerra mundial.

Mas ele está voltado para a pressão dos conservadores e reacionários do ambiente interno e à frustração causada aos 99% da Occupy Wall Street, militantes da paz, pois pode decepcioná-los ainda mais.

A Síria deve dominar o encontro dos G-20 na Rússia. A pauta seriam formas de impedir que a desregulamentação excessiva do mercado financeiro continuasse a provocar tragédias na economia de todo o planeta.

O 1% de privilegiados sai da berlinda, e tem oportunidades de ganhos enormes que uma crise deste tamanho é capaz de trazer com a volatilidade dos índices.
 Isso tornaria Obama o diabo também para a maioria dos ianques.

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