A morte me irritou vindo assim, antes de eu me aprontar.
- Sai, afasta, bando de urubus! Vão procurar o que fazer!
De nada adianta a história, o passado, a admiração quando,
sozinho, é preciso enfrentar a mais comezinha opinião de um ajuntamento, uma
vila, um grupelho social qualquer.
Os vizinhos são mais poderosos que a opressão de um volumoso
exército quando lhe negam o direito de falar ou simplesmente decidem não te
ouvir. Não me lembro bem do que gostaria de contar. As imagens aparecem,
soltas, e de repente se conectam como sempre foi e delas me fiz. Tornei-me
inimigo de mim quando já não conseguia estabelecer o nexo entre elas. Impiedosas,
cismaram de enfumaçar-se e diluir-se em frações pequenas de tempo, em ataques
sádicos de sabotagem.
Cedi. Tive que reconhecer
o obstáculo, a fim de encontrar um atalho.
Bastava-me ter-me como inimigo, minha luta agora era outra. E tinha a
vantagem de conhecer as táticas e artimanhas inimigas. Afastem-se, urubus!
Não me era favorável o campo de batalha, de um branco
límpido, amplo e de ar viciado. As ondas exuberantes de cores embaladas pela
ventania ali não havia. Nem mar, nem mata, nem as flores animais, ou animais
minerais a me orientarem. A quebrar meu
enfado, apenas meu eu inimigo com um sorriso sarcástico me encarando fixamente.
Ver, de verdade, não
o via, mas sabia que me olhava, sentia o olhar estufando minhas entranhas. Não
queria água, para não alimentá-lo. Da ração abri mão, na tentativa vã de
enfraquecê-lo tanto quanto a mim mesmo.
Morri sem pena, crendo que minha derrota lavaria ao
empate. Impedido de despejar-me, meu eu
inimigo se afogaria. Assim, alquebrado,
cheguei a vislumbrar, ou alucinar, a única vitória possível. 
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