O frágil dos fortes



 O
abraço tardio à seleção tem um quê do movimento das Diretas Já. O povo andava pelas ruas vestindo amarelo, a cor oficial do grito nacional, mas ignorado pelos opositores e temerosos por agitações nas ruas em favor da democracia. 

Quando as concentrações tomaram o país pouco antes da votação de 25 de abril de 1984, não se falou de outra coisa.

Como neste instante, nadava eu contra a corrente, mesmo participando das passeatas e comícios. Desconfiava que a euforia empanava alguma armadilha por trás do desejo sincero de eleições diretas. 

A história acabou confirmando a articulação por escolha indireta do presidente. Não gostei, aceitei com o tempo, foi o possível.
Tal sensação tenho hoje com a seleção brasileira.


 Euforia e camaradagem

Manifestante das Diretas Já
 O favoritismo é óbvio como anfitriã, mas se baseia fundamentalmente na excelente apresentação na final da Copa das Confederações. A concentração e o empenho da equipe foram excepcionais.

Particularmente, não acreditava que a dupla Parreira-Felipão pudesse tanto em pouco tempo. Foram magníficos. 
Mas a seleção será capaz de repetir a performance por sete jogos seguidos ou, ao menos, a partir da segunda fase? Tomara que sim. Porém, um feito extraordinário.

 A camaradagem no trato à seleção escamoteia falhas e o estado real do time. Lembremos de que, até a final contra a Espanha no ano passado,  Hulk era contestado. Hoje é titular absoluto.  Não compro esta ideia. O argumento principal, a disciplina tática na ajuda da marcação, de tão fraco, soa injusto. Todos têm papel tático definido e, na maior parte das vezes, o cumprem com rigor.
 

Intocável Hulk

Hulk, o forte do frágil
 Desde 2009, quando convocado pela primeira vez, figurinhas carimbadas como Ronaldinho Gaúcho, Ganso, Pato e Lucas ficaram no bafo por desajuste técnico ou tático. Manter-se no grupo de Dunga a Scolari no comando é certificado de qualidade.

O atacante do russo Zenit é potente no chute e na arrancada, pode determinar um placar.
Tem 10 gols em 40 jogos pela seleção, além de seis assistências.
O preço a pagar é sua previsibilidade e o engessamento do ataque. Confina  Neymar à esquerda e Fred como pivô.

O atacante do Fluminense é hábil e desprendido o suficiente para revezar posição com o camisa 10 e distribuir a bola. A probabilidade de furar as famigeradas duas linhas de quatro da defesa alternando lado e a referência entre zagueiros é maior que o rompante pela direita.

Discute-se a preferência por Oscar ou Willian. Por mais movimentação dos atacantes, os dois no lugar de Hulk, uma ótima alternativa de acordo com o adversário e o andamento da partida.

Meio, meia e volantes

 
David Luiz posaria também de volante?
Foto: Rafael Ribeiro/CBF
Para cada formação, um meio-campo adequado.
 O setor, na verdade, será o grande responsável pelo êxito ou malogro na Copa. Mais especificamente, os volantes. 

 As laterais do Brasil são o ponto fraco. Os volantes precisarão de muito fôlego para cobri-los e segurar a sobra, além de cuidar do próprio setor, onde atuam os melhores homens da maioria das seleções. 

Embora a zaga seja individualmente talentosa, em conjunto bate cabeça nos cruzamentos, mesmo nas bolas paradas.
De Fernandinho a Ramires, há variações consistentes o bastante, e o plus de David Luiz como volante, posição que conhece bem jogando pelo Chelsea, dando lugar a Dante ou Henrique atrás.

Muito pode este grupo, menos esticar o tempo de treinamento. Se Neymar não brilhar, o Brasil terá um time como a França ou a Itália, com a desvantagem de não ter disputado eliminatórias.
Dos favoritos, somos o mais frágil. É mais honesto dizer agora  em vez de desfilar de profeta do passado.

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