Protesto padrão Fifa

O presidente da África do Sul foi vaiado no enterro de Nelson Mandela.  No estádio de Johannesburgo, onde ocorria a cerimônia, estavam chefes de Estado de quase todo o planeta, de Barack Obama a Raúl Castro. Os sul-africanos não se constrangeram diante da serenidade e consternação do momento.  Jacob Zuma, tomado por denúncias de corrupção, foi alvo do protesto quase unânime da população presente. Não houve registros de xingamentos.

Dilma Roussef e Joseph Blatter evitaram discursar na abertura da Copa temendo as vaias generalizadas que, a rigor, não aconteceram. A agressividade partiu da ala mais abonada do estádio, classe numericamente pouco marcante, mas bem significativa da sociedade brasileira. Está presente no dia a dia das distorções que nos acompanham. Aquela que não reclama da extorsão dos preços dos restaurantes e culpa o governo pela inflação e acredita que o preço alto que pagou pelo carrão é efeito apenas do custo Brasil, e não da lei da oferta e da procura. Pode ser vista atravessando o sinal vermelho, dirigindo alcoolizado, parando sobre a faixa de pedestres, estrilando a buzina nos congestionamentos e estacionando em vagas para deficientes. Não chegou ao Itaquerão de metrô ou ônibus por questão de segurança.

Esta parcela mais comum em países pouco desenvolvidos é o rescaldo do tempo em que privilégios eram distribuídos em nome da sustentação da boa imagem de uma nação em que trabalho, produção e consumo estavam voltados para 30% dos habitantes das grandes cidades. A porção Bélgica da Belíndia, termo cunhado por economistas para definir o Brasil há cerca de trinta anos. O padrão adotado pela Fifa na organização do evento que tantas arestas criou com o governo na discussão sobre o número de ingressos populares, registro de marcas e nomes, além da reserva de mercado dentro e no entorno dos estádios.

A maior parte foi ao estádio fazer festa e fez.  A vitória sobre a Croácia não alterou a popularidade do governo nem conquistou votos dos que não querem Dilma ou PT na Presidência. Apenas não xingou a presidenta. Surpreendentemente, sequer vaiou.  

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