
Dilma Roussef e Joseph Blatter evitaram discursar na
abertura da Copa temendo as vaias generalizadas que, a rigor, não aconteceram.
A agressividade partiu da ala mais abonada do estádio, classe numericamente
pouco marcante, mas bem significativa da sociedade brasileira. Está presente no
dia a dia das distorções que nos acompanham. Aquela que não reclama da extorsão
dos preços dos restaurantes e culpa o governo pela inflação e acredita que o preço
alto que pagou pelo carrão é efeito apenas do custo Brasil, e não da lei da oferta e
da procura. Pode ser vista atravessando o sinal vermelho, dirigindo alcoolizado,
parando sobre a faixa de pedestres, estrilando a buzina nos congestionamentos e
estacionando em vagas para deficientes. Não chegou ao Itaquerão de metrô ou
ônibus por questão de segurança.
Esta parcela mais comum em países pouco desenvolvidos é o
rescaldo do tempo em que privilégios eram distribuídos em nome da sustentação da
boa imagem de uma nação em que trabalho, produção e consumo estavam voltados
para 30% dos habitantes das grandes cidades. A porção Bélgica da Belíndia,
termo cunhado por economistas para definir o Brasil há cerca de trinta anos. O
padrão adotado pela Fifa na organização do evento que tantas arestas criou com
o governo na discussão sobre o número de ingressos populares, registro de
marcas e nomes, além da reserva de mercado dentro e no entorno dos estádios.
A maior parte foi ao estádio fazer festa e fez. A vitória sobre a Croácia não alterou a
popularidade do governo nem conquistou votos dos que não querem Dilma ou PT na Presidência.
Apenas não xingou a presidenta. Surpreendentemente, sequer vaiou.
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