O meio é o fim


Crise política no presidencialismo é claustrofóbica.
Na melhor solução, termina em fantasma vagando entre planos engavetados.
Na pior, em abandono espontâneo ou compulsório do poder.
   
No parlamentarismo, Dilma estaria à beira da renúncia, encurralada pelo próprio partido e a coligação mal ajambrada que a levou ao segundo mandato. 
Faltando apenas um piparote, a derrota acachapante na eleição do desafeto Eduardo Cunha para a presidência da Câmara bastaria para a escolha de outra linha de governo.  Se houvesse outro projeto de governo.

Casuísmo

 Como não há, e o sistema é presidencialista, a oposição lança mão de manobras na linha divisória entre a pressão democrática e o casuísmo.

Buscar nas filigranas jurídicas meios de disseminar a ideia de impeachment é um atentado contra a livre escolha do eleitor.

Nenhum opositor ainda ousou acusar diretamente a Presidenta de cumplicidade com o esquema de desvios implantado na estatal do petróleo. Simplesmente porque não há quem creia nisso.

Faxina

 Ela foi derrotada no intento de limpar a máquina no início do primeiro mandato. A oposição se omitiu do processo na época, perdendo a oportunidade de mostrar maturidade democrática e de agregar credibilidade ao discurso.

 A avaliação rasteira de que a tal faxina fortaleceria a imagem pessoal da governante descartou táticas para, através do jogo político, dinamitar a aliança fundamental na reeleição.  

 Dilma insinuara naquela ocasião uma relação republicana com os tucanos. Não foi correspondida diante da impossibilidade lógica de ocupar ministérios ou cargos no segundo escalão.

Fisiologismo

 A movimentação dos adversários do governo é claramente direcionada para a ocupação da máquina, não para viabilizar uma alternativa política.

 A fisiologia alimenta a crise por dentro e por fora do círculo governista.
É uma realidade desde a redemocratização, não uma verdade, como mostra o xadrez do presidencialismo atual dos Estados Unidos ou o nosso passado recente.

 Carlos Lacerda minou Getúlio com petardos poderosos e diretos lançados da tribuna. Das apurações da Operação Lava-Jato surgiu a denúncia de que os pedidos de CPI da oposição eram formas de beliscar um naco dos desvios na Petrobras.
 Seria o motivo da falta de convicção vista há anos na oposição? 

Meio

 O governo está politicamente ruim, e a perda do norte ideológico indica piora no longo prazo. As medidas econômicas podem aliviar o desgaste, mas, já vimos no início do século, têm baixa capacidade de gerar prosperidade. 

A estabilidade política, então, depende incrivelmente das ações do ministro das Cidades Gilberto Kassab e do deputado Eduardo Cunha.

 Ambos autodenominados independentes e críticos em relação ao governo, partidariamente enraizados no poder, estão em lados opostos. 
Nenhum dos dois se compromete com legendas, defende uma política de governo ou ideologia.

 Kassab organiza um novo partido de apoio ao governo menos de quatro depois de fundar o PSD. Cunha quer liberar verbas para emendas parlamentares no orçamento da União quando seu partido discute no governo onde cortar gastos.


Sem ao menos um deles, no entanto, não há crise ou bonança.  Não há sistema que funcione direito assim, e a oposição também é responsável por isso. 

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