Nobre debochado

Futebol

Juvenal Juvêncio era o Vicente Matheus do São Paulo.

  Como o corintiano, folclórico representante do imigrante self-made man,  bronco desavergonhado, trabalhador e atrapalhado intelectualmente, JJ - a começar por esta maneira de ser chamado -  era a caricatura estereotipada do tricolor.


JJ, finesse sem stress

Aparecia em reuniões ou jogos invariavelmente com pele e cabelos bem tratados, sem exageros em relógios ou joias.  
Se não trajava o terno completo do cotidiano, não deixava a finesse;  camisa de grife em algodão com estampas discretas e mangas compridas dobradas pouco abaixo do cotovelo,  calça de tecido bom e mocassins ou sapatos de couro combinando com o cinto, que terminava por ressaltar a barriga muito redonda para o corpo sem sinais maiores de obesidade.  

A riqueza aparente e desafetada,  exibida sem o constrangimento típico do catolicismo que seguia, acompanhada das tiradas debochadas de tudo e todos, dava a JJ uma aura jocosa de nobreza.

 A figura, na verdade, é um alter ego construído com esmero.  O interiorano se firmou na capital como inspetor de polícia. Ganhou a confiança dos empresários e políticos poderosos durante a ditadura. Ocupou cargos em empresas públicas e conquistou o direito de conviver com os abastados nas dependências do clube.

Sua marca única, pessoal, era o andamento da voz.  Um tanto rascante, meio grave, saía pausada, leve mesmo em momentos mais tensos, com a segurança aristocrática de que não havia problemas que não pudesse superar. Capturava o interlocutor pelos olhos, por onde dizia um “ tá vendo problema onde? Vamos tomar um uísque.”

JJ perdeu a partida contra o câncer disputada por alguns anos.

 Era um personagem como aqueles que desfilam pelos humorísticos de esquetes.  JJ fica na memória afetiva como um bordão aos torcedores de todos os clubes.