BOOT NO HARDWARE



Política

Novas eleições é uma ideia sedutora. Mudar tudo, recomeçar do zero. Reiniciar a economia e a política, com novas leis.  
 Embora tentadora, é uma dessas premissas falaciosas que circulam em frases feitas, como  “brasileiro não gosta de trabalhar”, “ seríamos melhores se os colonizadores não fossem os portugueses”.  

 Democracia, transparência, tolerância e ética são construídas, não implantadas.  Não é do nada que a Presidência da República é ocupada por alguém que não tenha ainda – a esta altura, depois de tantas investigações, talvez nem terá -  acusações de crime contra si, senão uma juridicamente controversa manipulação do orçamento.  Não fosse o mensalão, não seria ela a escolhida pelo partido a disputar as eleições. 

Se não é um modelo acabado, perfeito, Dilma é fruto de uma evolução. O Ministério Público e a Polícia Federal reconheceram que têm liberdade como nunca para trabalhar. Mais de 500 funcionários públicos federais foram cassados por qualquer tipo de corrupção no ano passado. (Veja aqui, também no blog.)  Embora em segundo plano e desvirtuada no jogo político, a Operação Zelotes e o combate aos sonegadores avança.  

O novo paradigma assusta e a reação é dar um boot no hardware. Em nome da paz, estancar todos os processos e restabelecer os padrões. Sob o argumento das pedaladas fiscais, os candidatos ao Planalto propõem o fim do vínculo orçamentário obrigatório. Em miúdos, que deputados e senadores definam quanto, quando e onde gastar a cada ano. No limite, tornar a responsabilidade fiscal uma questão subjetiva, afrouxar as regras nas quais se apegam para derrubar o governo. 

 O impeachment, sem motivação concreta, caminha para a banalização e o mesmo balcão de negociatas onde estão as medidas provisórias e as CPI’s, criadas também para exceções. Não é conduzido por seus pressupostos, mas pelo oportunismo dos homens.  O ambiente no qual prospera, as denúncias de desvio, superfaturamento e caixa 2, não são exceções de um governo. Bons homens públicos é que são raros. 

O boot no hardware sabemos bem como funciona. 
 Nos últimos trinta anos vimos a moeda perder zeros e trocar de nome quatro vezes, incluindo um confisco que deixaria a todos o mesmo saldo bancário.  Fidelidade partidária, coeficiente eleitoral, maior rigidez na criação de legendas, tudo sucumbiu aos maus homens, públicos e privados.
 As chamadas pedaladas já existiam, se não devem mais ser aceitas, ou o regime do orçamento deve ser modificado, que se discuta com sobriedade e clareza. 

Fazer delas motivo para cassar mandato, mudar regras e datas de eleições, embutindo de afogadilho uma série de reformas há muito reclamadas nas áreas políticas, fiscal, trabalhista, etc, é retroceder em mais de 50 anos, aos Atos Institucionais. É um boot no hardware durante o upgrade.