Futebol de manual no automático


 A partida contra a Rússia serviria acima de tudo para testar alterações táticas contra as retrancas que devem marcar a Copa 2018. Ao que exibiu, a seleção não tem variações para treinar.

O time foi taticamente disciplinadíssimo no confronto com a seleção de rara pureza caucasiana. Dominou a posse de bola, mas não o campo.  Se errou poucos passes e aproveitou os poucos clareamentos na entrada da área, a movimentação sem a bola trouxe poucos frutos.  No manual, o time jogou bem, tal uma seleção média da Europa.

O domínio, resultando na vitória por 3 a 0, não mascarou as deficiências, tampouco testou a fragilidade vista em partidas anteriores.

Os adversários não tiveram habilidade bastante para explorar mais as laterais e as pontas. Concentrando as jogadas pelo meio, facilitou a formação da zaga. Ainda assim, com toques rápidos deu susto em Alisson.  Na única vez em que Casemiro avançou, a tomada de bola não deu em gol por falha no arremate.  Sem o volante, a defesa brasileira continua a se perder na marcação.

Mecânica por mecânica, a Alemanha tem excelência
 Fechada e recuada, a Rússia segurou a subida dos laterais.  Pelas costas de Marcelo e Daniel Alves, com cruzamento na área, a seleção, se já encontrou a solução, não teve oportunidade de mostrar. Empurrados os dois para trás, o Brasil teve pouco atrevimento. Venceu por superioridade no condicionamento físico e técnico. A Rússia subira a marcação e perdeu o gás.


O grupo de Tite é bom e tem jogadores de ótimo nível, por isso não chega a ser burocrático. Mas terá que fazer mais para buscar o título. Mecânico e sem lampejos, torna-se presa fácil para o próximo oponente, a Alemanha. 

Falta tempero nacional, o drible, o imprevisto, a malícia. A chamada “chegada de surpresa” de Paulinho é, na verdade, previsível. 

Neymar pode trazer a pimenta necessária, mas ao custo do sacrifício coletivo. E, sozinho, não tem a capacidade de desequilibrar a partida, feito seus concorrentes diretos, Messi e Cristiano Ronaldo.

A possibilidade esteve até então nos pés de Gabriel Jesus. Contra a Rússia, no entanto, não apareceu, preso na congestão da entrada área. O atacante ainda se recupera da séria lesão. Tomara que seja apenas falta de ritmo. Enquanto equipe, mais que o atacante do Paris Saint-Germain, o do Manchester City é que pode tirar a seleção brasileira do automático de um time de manual.  O que tinha que fazer, o técnico indica já ter feito.