Glenn Greenwald acerta outra vez

 Toda força e apoio à decisão do jornalista de deixar o Intercept. Princípio é para usar, e não, trocar.

 


Deve ter doído na carne o jornalista se afastar do projeto que ajudou a criar. Mas, na verdade, afastamento houve do Intecept a seus princípios.

Há veículos de tendência liberal, conservadora, progressista, etc... O do Intecept era o jornalismo independente. Ao optar por não publicar às vésperas da eleição norte-americana informações sobre a relação de Biden com o governo da Ucrânia, deixou de sê-lo. Não foi apenas alteração da postura editorial. Escamotear ou tergiversar sobre fatos apurados não é jornalismo, é propaganda.

O tema censurado de Greenwald

O jornalista aceita ou não a conduta do veículo para o qual trabalha. Há os que abdicam do conflito, priorizam a estabilidade no emprego. Os desconfortáveis com a censura pedem o boné. Estes costumam ser tratados como inconsequentes ou irresponsáveis. A hombridade de Greenwald tem sido criticada como gesto de vaidade, e seu trabalho censurado, como irrelevante diante do que fora divulgado sobre a relação Biden-Ucrânia.

Os envolvimentos da Ucrânia e da Rússia com a política dos Estados Unidos são nebulosos e parecem mais intensos do que se mostram.

O suposto tráfico de influência do vice-presidente Biden no trabalho do filho na Ucrânia basta à disputa eleitoral, mas o assunto não se esgota aí.  O que é a proximidade do partido Democrata com empresas e governo de um país que tem formado milícias da extrema direita e se tornou referência para hackers, com presença em vários países?

A bandeira ucraniana desfilou no Brasil nos atos públicos dos apoiadores radicais de Bolsonaro. Glenn merece mais respeito pelo histórico de revelações sobre a espionagem norte-americana e a operação Lava-Jato.

Jornalismo, meio e fim

Diante da possibilidade de derrotar Trump, não seria conveniente impedir a reportagem de Greenwald? Para quem participa da disputa do poder ou torce por Biden, sim. Manipular informações é corriqueiro entre estrategistas políticos de qualquer nível em qualquer ocasião. Para o jornalismo ético e responsável, a questão nem entra em discussão. O povo americano – de todas as Américas – tem o direito de saber com quem está tratando, venham quando vierem as informações.

Glenn Greenwald não é herói, ingênuo, nem, certamente, santo. Mostrou-se até aqui um profissional competente e correto. Mais que muitos, ele parece atento aos novos tempos. Na cada vez mais complexa civilização, a forma de vencer desafios importa tanto quanto a vitória. É o mecanismo de aglutinação e afirmação de todos os fragmentos sociais recentes, de conservadores a progressistas.

Na boca do poeta, “a gente quer inteiro, não pela metade” é a nova ordem. O maquiavelismo submerge. Exigem-se princípios claros, expressos com transparência.

Glenn Greenwald foi íntegro, não cedeu ao meio e mandou a mensagem. Moderno.

O sítio The Intercept Brasil não tratou do assunto. O jornalista escreveu sobre sua decisão na plataforma independente Substack.

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