Bond, seu nome é Connery

 O que levou Sean Connery a moldar a personalidade definitiva de James Bond.


O espião passava seus dias nas Bahamas. Discreto, como convinha a um agente da M16. Dormia quando foi aniquilado por causas naturais aos 90 anos de idade. Morreu em 31 de outubro de 2020 o primeiro e definitivo Bond, James Bond.

Sean Connery passou boa parte da carreira se esquivando da marca. Pior para um ator do que ser lembrado apenas por um papel, só ser esquecido. Ele falhou nesta missão. Connery moldou o caráter do personagem criado pelo escritor Ian Fleming no final da 2ª Guerra Mundial.

Nos 6 filmes que fez como 007, o escocês nascido em 1930 deu ao agente profundidade e intensidade da psique que tornaram a figura mais empolgante que seus adereços nada desprezíveis: o equipamento camuflado de alta tecnologia, as belas mulheres, as cenas de ação e os inimigos megalomaníacos e excêntricos.


007, segundo Sean Connery

Com Ursula Andress -O Satânico Dr. No
O James Bond de Connery é, antes de profissional treinado, um inglês tipicamente malandro, machista e, acima de tudo, vaidoso. Alimenta a paixão da secretária do chefe pelo prazer de vê-la disposta a seus pés. 

Usa da competência para seduzir a corporação inteira, ao desobedecer aos comandos e resolver as questões à sua própria maneira numa irreverência implícita, sem ferir suscetibilidades. Balanceia o sarcasmo com ironia fina. 

Conquista as mulheres que cruzam seu caminho não só com atos heroicos e protetores, mas também cercados de falsa sensibilidade e irretocável elegância.

Os diálogos com os inimigos que antecedem os confrontos, carregados da fleuma característica dos ingleses, de tão bem explorada pelo ator, rivalizam com as cenas de ação. 007 não desafia, tripudia. Para o lado de cá da tela, diz estar acima da humanidade, e o lado de lá nem percebe sua soberba.

Nenhum dos sucessores de Connery deu a Bond tamanha densidade. O atual, Daniel Craig, faz um agente em crise psicológica e desajustado, é tão denso quanto o original, mas é outra figura.

 

James Bond na vida real

Quanto tem da personalidade real do ator no personagem forjado não é certo. Connery brigou o namorado da atriz Lana Turner, com quem teria tido um “affaire” em 1957  durante a rodagem de “Vítima de uma Paixão”. 

Foi acusado na Suíça de dar o cano em um agiota. A justiça espanhola queria dele explicações sobre uma ocupação aparentemente irregular de um imóvel, mas ele nunca respondeu. É acusado de maus-tratos pela ex-mulher, com quem tinha um filho, e se retratou de declarações consideradas apologia à violência contra as mulheres.

Os Intocáveis
 Connery fez o que pode para se livrar do rótulo, mas acabou reconhecido publicamente por papéis paralelos.

 Embora dotados de perfis distintos, com o arguto monge-detetive William de Baskerville, um bom filme da sofrível adaptação do romance “O Nome da Rosa” (1986), de Umberto Eco, foi premiado pela Academia Britânica de Cinema.


Encarnando o guarda irlandês carrancudo Jim Malone em “Os Intocáveis” (1987) recebeu o Oscar de melhor ator coadjuvante.

Pelo conjunto de 94 papéis em 50 anos de atuação, em 1991 recebeu do governo francês recebeu o título da Legião de Honra. Em 2000, recebeu da rainha Elizabeth o título de sir.

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