Volta de Lula consolida governo paralelo ao bolsonarismo.
![]() |
Lula discursa em São Bernardo do Campo |
No discurso de pouco mais de uma hora, o ex-presidente, restituído por ora de sua elegibilidade, lançou-se à Presidência pressionando o atual governo a alterar a rota. Depois de comentar as condenações recebidas pela Lava-Jato e reforçar o prosseguimento ao processo de suspeição do ex-juiz Sérgio Moro, criticou o presidente Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes no varejo e no atacado.
Ponto a ponto, Lula pressiona Bolsonaro
No discurso, os principais contrapontos ao governo federal
foram os seguintes:
·
O ex-presidente exaltou o uso de máscaras e o isolamento
social mesmo após a vacinação, ao contrário do que tem dito o atual presidente
da República. Usando de sua retórica popular, disse que mesmo depois da
vacinação não seria hora de voltar às ruas e “pedir uma cerveja gelada no
boteco”.
·
Aos 75 anos, disse aguardar sua vez de receber a
primeira dose do imunizante ao Covid-19, qualquer que seja o fabricante. Repreendeu
o ministério da Saúde pelo desmonte da capacidade de cobertura vacinal do SUS.
·
Elogiou os governadores de estado, especialmente
aos do Nordeste, pelo esforço conjunto no combate à pandemia.
·
Criticou o incentivo ao armamento da população,
em detrimento da obsolescência do equipamento das polícias civil e militar,
categorias próximas do atual presidente.
·
Acusou o ministro da Economia, Paulo Guedes, de
não ter projetos de desenvolvimento e crescimento econômico, apenas planos de
privatização.
·
Defendeu
o projeto petista de investimento na exploração do pré-sal e na fabricação de
derivados pela Petrobras, contrapondo-se à venda de partes da estatal às
concessões de exploração dos poços.
·
Convidou empresários a discutir um plano de
retomada do crescimento baseado na distribuição de renda, como ocorrido em seu
primeiro mandato.
·
Ressaltou
em vários momentos sua disposição ao diálogo com todos os setores da sociedade
e matizes políticas, na tentativa de afastar-se do figurino radical de
Bolsonaro.
Governo paralelo encurrala Bolsonaro
A liberdade de movimento ao líder da
envergadura de Lula encorpa o poder paralelo que ganha a cada dia mais espaço
ante um governo, quando não incompetente, vacilante e inexpressivo.
Sensível à
opinião pública, o presidente deve lidar daqui por diante com um opositor de
grande habilidade de mobilização popular real e virtual, o que exigirá mais do
que atribuir culpa a outrem por falhas ou omissões.
Até agora, o
governo praticamente apenas reagiu às cobranças feitas pelo STF quanto a
questões cruciais como plano de cobertura vacinal e combate à pandemia, além da
destruição do meio ambiente.
Do Poder Legislativo,
desde o início do mandato, Bolsonaro vinha sofrendo derrotas e foi forçado a
retroceder ou alterar substancialmente diversos projetos. Mesmo após a vitória
de seu candidato às presidências da Câmara e do Senado, vê os parlamentares
tomarem a dianteira nas tratativas com o governo chinês com o fim de agilizar a
compra e o recebimento dos insumos para a fabricação da vacinas contra o
Covid-19.
Os erros e
omissões do ministro Pazuello na Saúde levaram os governadores a articular sem
o governo federal planos de isolamento e vacinação.
Para o esvaziamento
do governo, só faltava nesta sombra uma cabeça executiva com alternativas
viáveis e que elevasse o debate político. Ela chegou.
0 Comentários