A sociedade se mobiliza para tentar amenizar a miséria causada pela pandemia. Doar alimentos basta?
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Foto: Karolina Grabowska |
A carência que ora eclode não decorre de tragédia ou catástrofe natural surpreendente, mas fruto da inoperância e da falta de planejamento para mitigar os efeitos da pandemia, da prevenção ao auxílio econômico. Dificilmente se resolve com mobilizações de curto prazo.
Não são maus olhos às iniciativas de boa vontade, mas o
entendimento de que doações de alimentos respondem aquém à gravidade da
pandemia. Não há conhecimento suficiente para qualquer prognóstico sobre as
ondas de Covid-19.
Se o governo rejeita conceitos do bem-estar social, não
significa desobrigação com os princípios fundamentais dos direitos humanos. Os governantes
de todas as esferas só se corrigem com a cobrança ostensiva da sociedade.
Sistema Bolsa Família contra a fome
A experiência do Bolsa Família mostra ser mais digno e proveitoso
pôr o dinheiro na conta e deixar que o necessitado decida o melhor meio de
usá-lo. Os resultados do auxílio emergencial distribuído em 2020 confirmam sua
capacidade de manter a economia girando e de redução das tensões sociais. Ainda
assim, a nova rodada do auxílio é dirigida a um contingente de 22 milhões de
pessoas menor, com valores que vão ao máximo de 62,5% dos R$ 600,00 anteriores.
O governo federal se escuda na responsabilidade fiscal para
fazer do auxílio quase esmola no cenário de descontrole inflacionário. A
inflexibilidade da pasta da economia diante da miséria galopante e das mortes
recordes soa descabida mesmo no universo capitalista, vide EUA. A prioridade de
Bolsonaro indica que a permissão de gastos extras, sem pressão da sociedade,
não resolveria.
Ao menos R$ 9 bilhões do orçamento da União foram dirigidos a
emendas parlamentares sem necessidade de apresentação de projetos prévios, nem
fiscalização dos gastos. A manobra, pedalada clássica, exigiu a redução fictícia
de despesas obrigatórias, como seguro-desemprego e aposentadoria.
O auxílio emergencial a ser liberado a partir desta
terça-feira (6/4) é de 4 parcelas entre R$150,00 e R$375,00. O salário mínimo
em vigor é de R$1.100,00. A expectativa de vacinação de 80% da população,
condição mínima para volta da normalidade, é para o fim do ano.
Assim como a organização de setores do topo da pirâmide forçou a mudanças na condução dos ministérios da Saúde e das Relações Exteriores, a nação, concentrada na pressão por medidas de proteção social consistentes, ampliadas, e que levem a consideração a possibilidades de serem estendidas, talvez consiga navegar com mais serenidade na carestia.
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