Avanço da extrema direita no parlamento alemão fortalece tese de fim do capitalismo liberal, em que a renda substitui o lucro.
Tecnofeudalismo é expressão cada vez mais frequente nos debates acadêmicos e políticos sobre o avanço da economia digital.
O termo, que remete à organização medieval de poder, descreve um sistema em que gigantes da tecnologia concentram riqueza, dados e influência, reduzindo usuários e trabalhadores a uma espécie de “servos digitais”. Os donos dos tradicionais modos de produção, como fábricas, bancos e outros serviços, por sua vez, são rebaixados a “vassalos” das grandes empresas de tecnologia.
O Que é Tecnofeudalismo?
Yanis Varoufakis popularizou o termo em seu livro "Technofeudalism: What Killed Capitalism" (Tecnofeudalismo: O que Matou o Capitalismo), lançado em 2023.
O ex-ministro das Finanças da Grécia defende que o capitalismo tradicional, baseado em mercados livres, foi substituído por um sistema em que as “nuvens” (clouds) das big techs são os novos feudos.
“Elas não competem no mercado – são o mercado”, escreve Varoufakis, destacando que empresas como a Apple cobram taxas de até 30% sobre transações em suas plataformas, um “imposto feudal” moderno.
O conceito é uma crítica à estrutura econômica emergente, na qual empresas como Amazon, Meta (Facebook), Google e Apple operam como “senhores feudais” digitais. Elas controlam plataformas que funcionam como “terras virtuais”, onde bilhões de usuários trabalham, consomem e vivem – muitas vezes cedendo dados pessoais como “tributo”.
A analogia com o feudalismo histórico reside na relação assimétrica: enquanto as corporações acumulam poder e lucros, os indivíduos têm pouca autonomia sobre suas informações ou condições de trabalho, especialmente em setores como o de aplicativos.
Como o tecnofeudalismo altera a política?
A capacidade de moldar, organizar, priorizar e mesmo “criar” informações em seus feudos torna as big techs uma ameaça real às democracias liberais.
Não bastasse participarem de forma preponderante na aceleração do desequilíbrio na distribuição de renda, são o terreno fértil da guerra cultural desleal responsável por graves abalos nos governos e instituições mundo afora.
A instabilidade política aliada à insatisfação com a economia tem consolidado a extrema direita como alternativa ao centro e à social-democracia dominantes neste primeiro quarto de século.
Na tendência da proliferação do autoritarismo que se desenha, por quanto tempo o papel do grande pai ditador caberia ainda a um humano antes de ser assumido por uma inteligência digital?
* Ilustração: Lívio Lamarca com uso de IA
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