Sem dó, sem pena: No dia do Saci, prendi meus dois na garrafa! Cheguei a titubear, afinal, é uma comemoração justa, mas eles não fizeram por merecer. É sabido e notório que são capazes das mais incríveis estripulias, no entanto, é inimaginável o fôlego que têm para a traquinagem.
Seria necessária uma internet inteira só pra contar o que vi desde que me meti a preservá-los, há cerca de dois anos, quando, andando pela rua, vi um grupo de crianças fantasiadas de monstros a caminho de uma festa na escola pelo dia das bruxas. Percebi ali que era preciso fazer algo para evitar sua extinção. Não é fácil. É preciso ter paciência para lidar com as mais variadas molecagens. Aprendi a rir delas depois. Depois. A última ainda me está atravessada.
Há poucos dias, em uma tarde de chuva, ventou forte. O vento, especialmente para os sacis trazidos para a cidade, os deixa muito excitados e “criativos”. Eles começaram a saracotear pelo apartamento, como se procurassem um redemoinho para passear. Não me preocupei, acostumado que estava. Foi o meu erro. E quem pagou por isso foi Ostrinha, meu tímido canário que só ousava trinar quando se certificava de que não havia ninguém olhando. Num átimo, um saci saltou sobre as costas do outro e, alavancado a um pulo ainda mais alto, alcançou com um tapa a gaiola do Ostrinha, cuidadosamente protegido a uma altura de quase dois metros.
Mal a gaiola tocou o piso da varanda, o primeiro saci abriu a portinhola e bateu na grade do lado oposto a ela. A reação do pobre canário foi imediata. Escapou para a grade da varanda vizinha. Ficou olhando assustado, tentando entender o que tinha ocorrido. Não viu nada, pois, os sacis já tinha se tornado invisíveis.
Ostrinha então voou até o jardim do prédio, no térreo. Enquanto retomava a respiração, parecia avaliar se decidiria voltar para casa. Deve ter se dado conta dos responsáveis pelo susto. Deve ter se lembrado das dezenas de vezes que teve seu alimentador invadido, de seus nacos de frutas roubados, de sua água derramada por eles. E resolveu partir.
O castigo que impus foi apenas um lamento meu. É da natureza deles ser assim. Como alguns humanos, os sacis só vêem a perversidade como meio de se fazer presente.
1 Comentários
Que triste os sacis terem feito o Ostrinha fugir de casa !
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