O leitor Hideraldo Luiz - nascido nos anos 60, prova indelével da paixão paterna pelo Vasco - nos enviou uma crônica que se faz muito pertinente às vésperas dos últimos amistosos da seleção antes da Copa América. Se carece de boa vontade para com as exigências do futebol atual, toca espiritualmente na ferida que Tostão tão brilhantemente faz sangrar em abordagens mais técnicas. Vejamos como Dunga responderá.
Vamos à crônica, não sem antes registrar que nas peladas Hideraldo não era nenhum Tostão, mas era melhor, bem melhor, do que eu.
VELHOS TEMPOS
O goleiro coloca a bola no bico da pequena área, toma distância, aponta para o ataque, prepara o chutão de tiro de meta e ao invés de um chute, um toque para fora da meia lua a procura do camisa cinco. Aquele mesmo, de tempos atrás, que sempre saia jogando a bola do atual chutão. Aquele, com toque refinado, cabeça erguida, gingas de bailarino, tons de maestro e dono de um requintado futebol.
O camisa cinco recebe a bola, domina com a categoria de sempre, levanta a cabeça, se livra do primeiro marcador (isto mesmo que você leu, ele precisa de um marcador), e sai com classe para o jogo. O jogo segue o camisa cinco, continua sua exibição de gala. Mata no peito, toca de lado, cabeceia, aparece para o chute, faz lançamentos, joga sorrindo, coisa incrível, a elegância deste craque da camisa cinco é qualquer coisa de fenomenal.
Qual seria o nome dele? Faça um esforço para se lembrar, vou dar umas dicas:
Carlos Alberto Pintinho, Falcão, Carpegiani, Cerezo, Liminha, Dudu (nem pense no cearense) to falando daquele do Palmeiras 1970, Carlinhos, Piazza, Carlos Roberto, Junior, Andrade, Zé Carlos... Se você não lembrou foi pena, porque enquanto estava escrevendo este parágrafo, o treinador do time (um velho chamado lobo e seu assistente chamado barreira), talvez por não gostar ou talvez por mania de mandar (sivuca), sacou o camisa cinco dos gramados, para nunca mais trazê-lo de volta. Isto mesmo, substituição, meu caro leitor. Sai o craque do time e entra o cabeça de área, ou, mais popularmente conhecido, cabeça de bagre.
Lembra de 1984 nos states, foi ali, exatamente ali, como a destruição das torres gêmeas. Ele sacou toda a classe do time e colocou Dunga e Mauro Silva. Trocou um bailarino por dois lutadores de sumô. E desde então,declarou-se extinta a raça humana no futebol, para dar lugar ao Brutossaurus Erectus, uma espécie de destruidor do bom futebol.
Esta espécie criada pelo velho treinador é capaz de bater e destruir incansavelmente os 90 minutos e mais prorrogação. Que raça incrível! Obediente, não gripa, não falta treinos, não bebe. È um exemplo a ser seguido. Agora temos outros nomes: Igor, Marcão, Amaral, Zé Elias, Magrão, Caçapa, Dudu cearense, Gilberto Silva, e o mais completo deles, EMERSON.
Agora nos dias atuais, só nos resta sonhar e sonhar. Fico com pena, dos nascidos após 1984 que não puderam assistir a espécie humana jogando futebol. E ao mesmo tempo fico preocupado, se daqui alguns anos substituírem o cabeça de bagre por um robô.
"Mas ainda nos resta uma esperança! Eles construírem um robô de pernas finas e hábeis, de cabeça erguida, cintura de bailarino e craque como os de antes da destruição. Quem sabe isto acontece e assim voltamos a assistir a um futebol alegre e irreverente como os de antigamente.
NOTA: Já pensou um Brutossauros deste como treinador? Como em Hollywood, continua no próximo filme.
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