Cidadania em hora extra

No início do processo da redemocratização as organizações comunitárias se formaram dispostas a levar a público as mazelas restritas à vizinhança. Foi ouvida e respeitada. Lançou e encorpou novas lideranças, que acabaram se acoplando ao sistema político, via eleições ou cargos de confiança. À medida que se aproximavam destes poderes, começou o esvaziamento desta força reivindicatória, ficando as associações à mercê do calendário eleitoral. As ONGs tomaram vulto ao preencher esta lacuna, mas também já são questionadas e acusadas de atuar como braço político-partidário. Com razão ou não, os gestores públicos têm conseguido com este argumento neutralizar os agentes contrários a seus interesses e projetos.
Baseado no modelo norte-americano, existente desde a formação das primeiras cidades após a independência, o promotor de justiça de São Paulo Augusto Rossini iniciou experiências em bairros da zona sul da capital paulista. A partir do interesse imediato dos moradores, intermediou o diálogo entre a população e especialistas, além de representantes, neste caso, de órgãos públicos municipais.
As reivindicações ganharam sustentação técnica e, o mais importante, organização jurídica. Com o apoio do Ministério Público algumas associações comunitárias descobrem a pressão jurídica como meio de conquistar melhorias.
A intenção de Rossini agora é convencer os colegas a também deixar os gabinetes e ouvir os anseios da comunidade. Nos Estados Unidos os promotores locais são obrigados a participar de reuniões e encontros comunitários, uma vez que passam pelo mesmo crivo eleitoral que o prefeito, o delegado e o juiz. Entre nós, esta tarefa é hora extra sem remuneração de funcionário público em cargo vitalício.

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1 Comentários

  1. Livio Lamarca. Parabéns pela matéria e a forma como conduziu a reportagem. O Centro da Cidade só tem que lhe agradecer

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