(Texto de Olavo Zoroastro)
A transição de eras é tão ruidosa que parece que o mundo vai mesmo acabar daqui a pouco. Não há mais pedra sobre pedra nem na geologia. Teorias e propostas originais em choque com velhos dogmas e paradigmas generalizaram a desconfiança em relação aos conceitos tradicionais da política, da economia e dos costumes. Neste início de nova ordem mundial a organização social se faz por flash mobs; a restauração da democracia, pela invasão da autodeterminação dos povos e globalização virou sinônimo de especulação e espetacularização. Se só faltava mesmo um boleiro na Academia Brasileira de Letras...
É preciso muita força interior para suportar tanto, afinal, como disse o ministro, poeta, empresário cultural e momentaneamente profeta Gilberto Gil, a arte está em viver da fé, só não se sabe fé em que.
O ambiente turvo das fronteiras recém-abertas cria insegurança. As velhas religiões já não trazem respostas. Porém, os sinais do futuro são claros. A sistematização das nascentes correntes de pensamento talvez possa iluminar o caminho:
Confusionismo – Nova corrente filosófica que se prolifera com força doutrinária a partir do sudeste asiático na segunda década do século XXI, baseada no abandono da resignação e paciência comuns às várias correntes orientais, incapazes de confortar após tantos desastres naturais que insistem em abater a região. Seus adeptos já não sabem para onde correr.
Judiaismo –Interpretação radical das escrituras dos profetas do mundo antigo. Implica em atuação clandestina de Estado. Exige grandes e dolorosos sacrifícios pessoais - dos oponentes - como forma de manter soberania e poder. Nega o diálogo com qualquer tipo de religião divergente, pregando o princípio do “dente por dente, arranco todos os seus”.
Expsiquismo – Corrente neokardecista em ascensão no novo mundo ocidental por arrebanhar ateus antes crentes que todas as respostas se encontravam na mente. Se consolida via comunicação de massa, na enxurrada de filmes produzidos em estúdios de todo o mundo sobre espíritos vagantes, séries televisivas de temáticas sobrenaturais e livros de auto-ajuda.
Umbanditismo – Vertente cristã niilista enraizada na periferia das grandes cidades do terceiro mundo. Vítimas da pobreza e da violência desenfreada, seus seguidores não creem mais na possibilidade de salvação pela mão do homem. Entregaram tudo para Deus. E ele que trate de perdoar qualquer crime ou delito praticado em nome da carestia.
Mussumanismo – Linha branda do Umbanditismo praticada mais comumente no Brasil. É a evolução do sincretismo religioso característico dos países latinoamericanos destinatários de grandes contingentes de escravos. São seguidores do estilo de vida do personagem interpretado por um falecido comediante brasileiro. Mussum enfrentava todos os obstáculos com alegria e uma piada na manga. Comemorava qualquer pequena realização como se fosse um grande feito. Para os fiéis, Mussum é o grande irmão.
Induzionismo – Expoente fanático do maniqueísmo. Corrente nascida nos Estados Unidos e principalmente praticada nas Américas e Europa, ganha força em todo o planeta. Os adeptos enxergam o mundo dividido entre perdedores e ganhadores. Tem códigos morais extremamente flexíveis, mas um princípio único: “Se dar bem”. Exige dos adeptos a prática constante de fazer crer que são sinceros e honestos mesmo quando burlam leis e normas sociais.
Astrologismo – Ramo esotérico do Induzionismo. Prega a conquista do paraíso e da vida eterna ainda nesta dimensão através da projeção da imagem de si mesmo. Incentiva e canaliza a obsessão à onipresença pela prática da meditação e do desapego ao bom senso. Embora etéreos, podem ser vistos frequentemente ao lado de artistas, empresários e atletas. Os esotéricos tradicionalistas os classificam de “encosto”.
Sinal dos tempos, romper com as tradições em nome de um novo credo incomoda a alma. Em caso de angústia exasperante, diazepínico e tempo aliviam. Se Gbagbo se rendeu, qualquer um pode.
Se, ainda que ateísta convicto, a luz insistir em faltar, a melhor conduta é o 0800. A companhia distribuidora é obrigada a fornecer o serviço.
1 Comentários
Muito esclarecedor. V. Sa. é certamente uma sumidade em religião comparada. De minha parte, identifico-me como Mussumanista. Pimenta no forevis dos outros é refresquis!
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