Não se pode estranhar ou repudiar em um regime democrático o
entrevistador retrucar ou desconstruir em frente às câmaras um Presidente da
República. É parte da democracia. Mas cortar a fala da mais alta autoridade do
país, em seus domínios, diante deum público de mais de trinta milhões de
pessoas sem parecer ríspido ou grosseiro, exige muito exercício. O entrevistador parecia ter noção da dificuldade.
Preocupou-se com o tato a ponto das perguntas darem voltas quilométricas,
roubando tempo da entrevistada. Compensou-a com tempo extra no final e tomou o
troco no cronômetro.
Pugilato
De temperamento
forte, Dilma Rousseff ditou o ritmo, e William Bonner entrou na dança. O roteiro de perguntas manteve o padrão Homer
Simpson de originalidade, atendendo corações e mentes especialmente dos
insatisfeitos e da oposição. Dado o que
já se vira, ela não deve ter se surpreendido, pois mostrou segurança e
determinação de quem tem se preparado bem para debates. Para debates. Estendeu e detalhou processos administrativos
e números mais do que pedia a situação.
Atropelou com
autoridade as tentativas de interrupção. O interrogador comprou a briga, assim
a forma superou o conteúdo. Apesar de
não tergiversar, ela não passou seu recado. Em relação à economia, a entrevista, mesmo com
boas premissas nas perguntas e nas respostas, não permitiu conclusão alguma ao
telespectador, a essa altura, inquieto na poltrona.
Tiro n'água
Dilma falhou na conquista do voto indeciso ou opositor, tampouco
municiou com clareza quem está disposto a defendê-la nas ruas. O quase bate-boca
tomou o lugar da argumentação. O que
havia de positivo nos escândalos de corrupção, o reforço nos mecanismos de
apuração, se perdeu no belicismo quanto à manutenção nos ministérios de
partidos acusados de corrupção. Acertou na defesa dos acusados injustamente, mas
faltou falar dos outros, um tanto também pela precipitação nas interpelações.
Na linha adotada pelo telejornal, não havia como não
perguntar sobre o chamado mensalão, nem a Presidenta, em função do cargo,
poderia emitir a opinião às claras, mas lançou o pingo para bom entendedor.
Trégua
No duelo, deu-se
melhor Patrícia Poeta. Centrada, educada e incisiva. Questionando sobre a qualidade da saúde em
relação ao tempo de governo, extraiu a síntese do maior desafio da candidatura
à reeleição: convencer de que o país melhorou muito ainda que haja muito a fazer.
O dilema se vê nas pesquisas através dos
bons índices de aprovação do governo junto de grande desejo de mudanças. A equação não está
ainda bem resolvida no discurso de Dilma, a julgar pela resposta, mais uma vez,
com boas premissas, mas desorganizada.
Dilma Rousseff , assim como Aécio, tem deficiências na
comunicação frente a frente, denotando o potencial de crescimento de Eduardo
Campos nos debates. Para sorte dos dois que seguem no páreo, Marina Silva
também é pior que o falecido candidato no quesito oratória.
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