A - vamos lá - empolgante movimentação dos números das pesquisas eleitorais tem até aqui terminado no mesmo lugar de onde partiu. Por quê? Aparentemente, não há convicção na escolha, salvo o reduto já sabido de cada um dos três principais candidatos. Pode-se atribuir em parte à normalidade da democracia, que, se não neutralizou ou efeito da emoção, anestesiou a paixão. Mesmo o partido nascido dos movimentos populares tem recorrido à militância paga. Este fator, já conhecido, vinha elevando o número de abstenções, votos nulos e brancos. Foi, no entanto, minimizado com o aparecimento da terceira alternativa.
A entrada de Marina Silva no jogo esboçou aprofundamento da
discussão de propostas políticas e projetos de governo, mas não passou disso. O
processo voltou à mesmice de acusações pessoais, filigranas e sobre a lisura. Nem
mesmo a polêmica sobre a independência do Banco Central foi discutida com base
em modelos concretos de independência ou subordinação ao executivo. Idem para
as questões do desenvolvimento autossustentável. As reformas política e tributária, destaques
no início, foram para o limbo da superficialidade.
O processo eleitoral avança pelo surrado personalismo. Se Dilma como governante pode ser mais
concretamente julgada pelo eleitor, como candidata não se afasta tanto dos
adversários diretos. A rigor, os três seguem o viés social-democrático. Dividem-se pela disputa do poder, o que é
legítimo, mas têm divergido apenas no que passa ao largo dos velhos e dos novos
anseios da população. No lugar comum do senso
geral, o tamanho do Estado não importa, mas sim o bem- estar social que ele
possa gerar.
Os índices de crescimento social são inquestionáveis mesmo ao
ferrenho opositor, mas não significam que não haja muito ainda por fazer, nem o otimista governista há de negar. Os
próximos passos são mais complexos, exigem criatividade e clareza. Olhando para
futuro, a massa não vê no que se agarrar.
Pode ser que o provável segundo turno traga mais luz, mas
será tarde. A falta do debate agora em torno de um projeto tem efeito perverso no
avanço da democracia. Contagia de personalismo também a escolha dos
parlamentares. Sem discurso afinado com
a proposta majoritária, restam a gracinha e o descompromisso dominantes no
horário eleitoral, com a devida sobrevalorização da força econômica do
candidato.
Os três favoritos a
deputado federal no estado de maior número de eleitores, São Paulo, são de
partidos envolvidos em denúncias de ilicitudes na máquina pública e/ou não
apresentaram propostas relevantes ao país. Um deles, Maluf, recorre da
impugnação judicial da candidatura.
Como se não bastasse, o comandante do mimético PMDB, ninguém menos do que o candidato à vice de Dilma
Rousseff, acaba de abrir a porta de negociação de apoio ao opositor em caso de
derrota. Pior do que está não fica, mas dá gosto de retrocesso justamente à fonte do
desejo indubitável de mudança.
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