Definido o pior, falta o melhor


 Em 1986, mesmo Aécio, mais preocupado com ondas que com custo de alimentos, aprendeu que o terceiro semestre é de entressafra na pecuária. A Polícia Federal fora a campo atrás do boi em falta nos supermercados com a suspeita de boicote ao congelamento de preços do plano cruzado. A conclusão estampada em toda a imprensa nunca mais foi questionada, até que o próprio ministro da Fazenda sugeriu na TV substituí-la por ovo ou frango.

 Ainda assim ele interpretou a frase como melhor lhe convém. É do jogo eleitoral, o votante que o julgue, mas Dilma não soube responder a contento. A armadilha resume o primeiro debate do segundo turno. O tucano levou a melhor quanto à desenvoltura, derrapando no excesso de confiança e pouco convincente quando atacado sobre improbidades. A petista se expressou mal, atacou bem e defendeu com consistência o território dos avanços sociais.

Derrotado saiu o objeto da disputa. A parcela do eleitorado de melhor grau de escolaridade e renda, eleitor de Marina no primeiro turno, não recebeu substância suficiente para manter ou alterar a escolha com base na razão.

A classe média tradicional, pepita mais nobre deste pleito, ouviu dos dois que poderá ter o imposto de renda corrigido pela inflação, que os impostos sobre os pequenos empresários podem ser simplificados e até diminuir. Pararam por aí as propostas.

A esta altura, a camada volátil começa a pensar no ano que vem. Voltada para seus interesses próprios e imediatos, segue na dúvida: vai dar ou não para matricular o filho na natação, aquela viagem desejada nas férias será possível, conseguirá trocar de carro, a dor de cabeça com os planos de saúde acabarão, as reclamações sobre os serviços de telefonia e tv serão atendidas, a inflação dos alimentos, ceder? A corrupção diminuirá, a segurança aumentará, dos buracos nas estradas, quem cuidará?

As acusações na tônica dos confrontos alimentam o discurso do ódio instalado entre os já decididos de lado a lado. Algo que os candidatos insistem em dizer que não querem, mas terminaram o duelo aos beijinhos, satisfeitos no ensejo de provar que o adversário é o pior.

O indeciso procura elementos para se definir pelo melhor. Ou só resolverá na cabine de votação.

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