Eletrocutado sem direito ao perdão, sob pena de fazer a chefa passar por
mentirosa, o ministro da Fazenda Guido Mantega não esteve ainda envolvido em denúncias
provadas ou aventadas em todo o processo eleitoral. A pasta é menos porosa ao fisiologismo que a
da saúde ou dos transportes, é verdade, mas nos 13 anos de governo, quase nove
no cargo atual, não há notícia sequer de que tenha usado o cartão corporativo
para pagar uma tapioca. Houve o caso de assessores próximos acusados de
favorecer uma pequena empresa de serviços. A história não teve sustentação e os
citados foram lancetados de imediato.
Mantega foi rifado pelo governo quando a banca e a capitania
industrial festejavam a viabilidade de Marina Silva. A rusga vinha de longe, veja só, porque não daria
muito ouvido a eles! O temor à inflação
foi o piparote que faltava. O pânico plantado pela oposição e seus megafones se
baseia em fato real – nada na minha cesta mensal de abastecimento subiu só 6,7%
nos últimos 12 meses – mas era o risco calculado do plano do projeto
desenvolvimentista. Havia até o discurso pronto: “está dentro da meta”.
Erros e correções com jeito de improviso, cada economista
tem seus preferidos para criticar o ministro.
O manuseio do cobertor curto chamado de manobra contábil gerou
desconfiança. Na soma, Mantega falhou ao superestimar a adesão ao plano
desenvolvimentista. Faltou combinar com os russos. A fera capitalista não
despertou, apesar dos cutucões, da ração farta e da proteção. O afago virou o
fardo do pibinho. No cenário exatamente oposto – moeda valorizada, empréstimos
caros, baixo salário, abertura às importações, etc... – o governo FHC foi torrado
pelos mesmos agentes com a mesma intensidade.
Os impostos são altos, mas têm diminuído. Os salários
aumentaram, mas voltaram ao mercado. As margens de lucro são indecentes, mas
sem ameaças de tabelamento. O desemprego, apesar das previsões pessimistas, é
baixo; e o principal, a prestação ainda cabe no bolso.
Guido Mantega pode definir o resultado da disputa mais
ferrenha desde a redemocratização sem trocar de moeda, com inflação domável, sem carestia absurda nem desemprego.
Seu feito miraculoso, no entanto, é ter unido tucanos e petistas,
banqueiros e industriais, além de deixar o governo após tanto tempo sem ter
virado piada na boca do povaréu.
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