Opinião
É irônico. A tentativa de fazer do Brasil uma Venezuela não é
da esquerda, mas da direita. Ela conseguiu arrebatar a insatisfação com o
estado geral do país, da desaceleração econômica à qualidade dos serviços
públicos e privados, e canalizá-los para a tática de desestabilizar o governo e
acirrar o conflito de classes.
Não foram percebidas pressões ao judiciário pela
punição aos acusados do escândalo Petrobras. Tampouco sobre o Congresso, pista
de decolagem e pouso das tantas mazelas históricas. O protesto foi
monotemático, “Fora Dilma”, com doses de intolerância e agressividade contra a
Presidenta e exaltação à volta do regime militar.
Ponto para os articuladores
da manifestação do dia 15 de março, mas houve mais que isso.

A seu modo, a classe média ensaia entrar no
debate político. Ao calar o deputado federal Paulinho da Força (SD- SP),
impedido de discursar no caminhão de som na Avenida Paulista, enviou a mensagem
clara de que não se sente representada pela oposição.
O Henrique Capriles
nacional, derrotado nas urnas, não ousou ir para a rua tomada substancialmente por
seus eleitores.
Este vazio dá espaço também a Dilma.
A classe média não prioriza conquistas ideológicas, e sim ser
atendida em medidas práticas. Quem está no poder tem a vantagem. Depois de
encorpá-la com aumento de renda e de oportunidades nos últimos anos, é hora de
dar à classe mais voz.
Aceitar o jogo do acirramento é empurrá-la para os
adversários.
É o governo quem move as peças agora. O lance pode decidir a
credibilidade do anunciado projeto anticorrupção e o desenho da almejada reforma
política.
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