Muito se dizia sobre a importância histórica de fazer nestas
plagas a Copa do Mundo. Dentro e fora de campo, o tempo mostra, foi.
As manifestações e embates durante a organização do evento
têm parcela significativa de responsabilidade direta na prisão de dirigentes e,
agora, na renúncia de Sepp Blatter à Presidência recém-conquistada da Fifa.
A
relação da entidade e seus nomeados em todas as operações ligadas à Copa com cartolas,
governos, empresários e com a população nacionais foi ruidosa o bastante para
fazer avançar os ataques ao castelo Fifa e seu “modus operandi”.
Dos protestos violentos às reivindicações de melhorias no “padrão
Fifa”, das exigências legais e técnicas ao país à perseguição aos cambistas
credenciados, a prepotência da Federação foi exposta e encurralada.
Não tenhamos a pretensão de nos considerarmos líderes de uma
revolução ética, basta ver que daqui e do restante da América Latina são os
primeiros acusados e presos por corrupção, propina e lavagem de dinheiro. Denúncias
e processos contra integrantes da Fifa existiam antes de 2014, e o escândalo
agora atende a interesses da UEFA dirigida pelo francês Michel Platini, da
Federação inglesa e dos EUA, país determinado a fincar estaca no mundo do
futebol.
A repercussão mundial
da relação Fifa – Brasil, no entanto, não permitiu mais que os casos fossem
tratados com discrição e abafamentos jurídicos. Não por coincidência a primeira
leva de membros da direção “sacrificados” terem sido os brasileiros João
Havelange e Ricardo Teixeira. A ideia de que os dois eram apenas uma célula
criminosa nos domínios de Zurique foi aniquilada pelas palavras de ordem que os
brasileiros nas ruas expuseram ao mundo.
O nível promíscuo de barganha com governos, que tinha se
desenhado na África, emergiu nítido nas discussões sobre a infraestrutura das
sedes no Brasil. As cotas sociais de ingressos, bem como a regulação do
comércio no entorno dos estádios e do comportamento dos torcedores escancarou o
descaso com as características locais.
O primeiro resultado positivo surgiu na decisão de transferir
do meio para o fim do ano a Copa de 2022 no Catar, respeitando a
particularidade climática. Começava a ruir a muralha da Fifa, a faxina nos
critérios adotados tomaram fôlego.
Há muito ainda por trás desta história. Platini, que
almejara o lugar de Blatter, retrocedeu depois de acusado de receber propina
para apoiar a Copa no Catar, desejada pelos Estados Unidos. A Inglaterra não se
conformou com a derrota para a Rússia na escolha do torneio de 2018. São eles
os líderes da revolução que, por ora, degolaram apenas dirigentes do terceiro
mundo. Seus passos devem ser acompanhados com ceticismo.
Porém, trata-se de uma limpeza da sujeira que a indignação
do povo brasileiro tirou de baixo do tapete.