Opinião
Com 71% de reprovação, segundo o Datafolha nos induz,
a Presidência da República é o alvo central.
Historicamente é assim graças às
ditaduras e paternalismos que se alternaram no posto até a redemocratização do
sistema. A pesquisa não confirma, pois não
revela qual a reputação atual do Congresso.
Motivos sobram para criticar o governo que perdeu o controle da economia, estacionou nos avanços sociais e serviços básicos da educação
e saúde e parou o atendimento nos direitos do consumidor.
Bater panelas contra o engodo eleitoral é até
salutar à cidadania. Pelo impeachment com base nos roubos denunciados, outra
história.
Razão ou emoção?
A pesquisa mostra 66% de apoio a abertura de um processo de
impeachment. É um sentimento de raiva ou
uma opinião baseada na razão?
Do que foi
publicado sobre o levantamento não é possível detectar o que passa na cabeça do
entrevistado quando opta pelo afastamento.
O restauro da estabilidade política depende da compreensão da maioria
sobre do ato e das expectativas de seu desdobramento.
Crer que sem Dilma Rousseff polícia e judiciário manteriam esta
independência na apuração dos crimes cometidos na esfera pública é ingenuidade.
A revisão dos argumentos do ex-ministro
do STF Joaquim Barbosa na condenação dos envolvidos no mensalão, e as
controversas atuações de Gilmar Mendes em vários episódios recentes, são
exemplos de subjetividade do “rigor da lei”.
As interferências na Polícia Federal em mandatos passados,
especialmente nos anos FHC, foram notórias. O Procurador-Geral da República da época,
Geraldo Brindeiro, ganhou o apelido de engavetador-geral de tão criticado por
travar a apuração de denúncias.
Por mais que a Constituição garanta, a
iniciativa de um juiz ou promotor não basta; sem aval dos governos investigações
não avançam.
O combate à corrupção está para o governo Dilma Rousseff como
a estabilização da moeda para o de FHC e a distribuição de renda para o de Lula.
A menos que surja alguma prova de que tenha recebido
propina, defender o impeachment é enterrar os esforços que tem feito desde o
início de seu primeiro mandato.
O custo
das falcatruas é alto. Só na Petrobras, a estimativa de perda oficial é de
R$6,2 bilhões. O político, vê-se, é
ainda maior, mas é apenas a governante quem sofre.
Surra do parlamento
Do PT ao DEM, Dilma apanha.
Não há no Congresso quem a
defenda.
A votação da primeira pauta-bomba, a PEC de vinculação dos salários da
Advocacia-Geral da União, procuradores de estados e municípios e de delegados
civis e federais a 90,25% do salário dos ministros do STF, foi aprovada na
Câmara por 445 votos a favor e a penas 16 contra.
Um doce dos investigados aos investigadores em momento tão
delicado de apurações criminais já soa imoral. Pelo objetivo de desgastar o
governo, também é capaz de levar a economia do país ao descrédito internacional.
Confiança
Na hora do voto, o eleitorado mostrou maior descontentamento
com o legislativo. A renovação na Câmara dos Deputados foi histórica, com 198
nomes eleitos pela primeira vez e 25 recuperando o lugar perdido entre os 513 parlamentares.
Aumentando os próprios salários e
aprovando a construção de um shopping particular, os deputados também frustraram
as expectativas logo na largada.
53% dos entrevistados acreditam que Dilma será cassada. Não
daria aos deputados, no entanto, o poder.
28% preferem o parlamentarismo ao presidencialismo, com 53%.
Ao embarcar na onda
emocional criada pela oposição, a população pode chegar ao resultado diretamente
contrário ao que deseja.