O Congresso eleva o tom contra o STF em nome da constituição
e da democracia. Alega querer de pé o que se esforça para fazer ruir.
A Câmara anuncia o deputado Bonifácio Andrada (PSDB-MG) como
relator da segunda denúncia contra Michel Temer na Comissão de Constituição e
Justiça. Aliado de primeira hora do Governo, próximo do senador Aécio Neves (
PSDB-MG), encaminhará a denúncia de obstrução da justiça. Bonifácio,
integrante do regime militar e contrário ao restabelecimento das eleições
diretas na votação de 1984, foi quem disparou “os deputados não são santos
porque o povo também não é santo”.
No jogo político, a demonstração de força do Governo em nome
de suas diretrizes seria natural. Mas o Governo não tem outro interesse senão
se safar da justiça. A refrega do Senado contra o STF foi a decisão pelo
afastamento de Aécio do mandato. Não há limites
para o cinismo.
Escalada
Há pouco mais de um ano os parlamentares decidiram depor uma
presidente sob a controversa alegação de que as pedaladas fiscais seriam motivo
suficiente para, na realidade, anular o pleito de 2014. Muitos dos congressistas
confessaram que o motivo real da cassação fora a perda da maioria no
Legislativo. O sistema definido na Carta é presidencialista. O movimento foi inconstitucional.
Ato contínuo, arranjou-se a manutenção dos direitos políticos da cassada. Outra
pedrada.
Sustentam um conspirador e o esquema de corrupção, como
demonstraram muitas das escutas feitas pela polícia federal. À gritante
alternativa constitucional, convocação de novas eleições, permitiram do
Executivo manobras e chicanas que levaram contra a vontade popular à blindagem
de Michel Temer. Ainda que pouco a pouco as investigações trouxessem flagrantes
indeléveis da continuidade dos crimes.
Reação
A reação também é intensa. Da corte de primeira instância de
Curitiba ao STF, o comportamento dos juízes tem sanguinolência de militante
partidário apaixonado. Aos poucos, enfim, o Judiciário tomou para si o direito
inconstitucional de governar, com o mesmo requinte de cinismo do Legislativo. O
discurso do ministro Luiz Fux em defesa do afastamento do senador mineiro é um acinte.
Mais grave, apenas a falta de punição severa ao ameaçador General
Mourão. A pesquisa da CNI/Ibope divulgada hoje atesta a falta de legitimidade em
Brasília para calar quem quer que seja. O Presidente tem 3% de aprovação. Segundo coluna de Mônica Bergamo, da Folha de
São Paulo, pesquisa encomendada pelo DEM contou rejeição constrangedora aos
partidos: DEM- 60%; PT-62%; PSDB e PMDB são rejeitados por cerca de 75% da
nação.
Desde o ex-deputado Eduardo
Cunha como presidente da Câmara dos Deputados o país vive de arroubos e
imposições violentas. A democracia era
de vidro. O Estado de exceção vem
exigindo dia após dia de cada poder mais beligerância. Ainda assim os três continuam apostando em
manobras protelatórias, na expectativa de que o tempo se encarregue de
dissolver os conflitos em lugar de ouvir o povo. Mas a estratégia só faz aumentar a
insegurança e a raiva, ingredientes poderosos da irracionalidade coletiva. É do
povo que depende a restauração da democracia.