O BC convocou às pressas entrevista coletiva para evitar falar em crise cambial. Mas jogou sobre o balcão o fundo soberano, extinto,
transformado em reservas. Além dos U$ 380
bi, promete colocar na semana que vem U$ 20 bi em swaps cambiais.
Trocando em
miúdos, Ilan Goldfajn convocou a coletiva para dizer “pode vir quente que estou
fervendo”. A banda especulativa do mercado adora este jogo de forças. Diante da
fuga mundial dos emergentes decorrente do teatro de guerra comercial e da alta
dos juros americanos, é gasolina no fogo da volatilidade.
Combustível com reajuste diário, aliás, com viés de alta,
contaminando junto com o dólar toda a cadeia, da produção ao consumo. Logo ali,
na padaria da esquina, o pãozinho francês me custa 8% a mais desde o fim da
última semana. O trigo importado é pago em dólar. A agropecuária é dolarizada.
O tesouro suspendeu por duas vezes a venda de títulos nesta
quinta-feira (7/8) a fim de acalmar a onda especulativa sobre os títulos. A medida
está se tornando rotineira nos últimos meses. Analistas financeiros apostam em
alta de 0,75% na taxa Selic este mês.
O presidente do BC garante que as políticas cambial e
monetária não se entrelaçarão. Na planilha, estão separadas, mas, no mundo
real, terá que contar o segredo da magia. Nominalmente, poderá dizer que a
inflação está sob controle. Por ora, as projeções indicam inflação abaixo da
meta, ainda que as gôndolas dos supermercados indiquem o contrário. Porém, a
custa do desemprego na casa dos 13% e da vacilante retomada de produção.
Back to back
O cenário é de aumento de preços com baixo crescimento. A
outras expressões recuperadas dos anos 1980, como regime militar, MDB, aumento
da mortalidade infantil e epidemia de AIDS, tende se juntar a estagflação.
Se o risco país, embora ascendente, ainda não explodiu como
há 30 anos, foi por causa do colchão que o BC agora está disposto a lançar na
farra. Uma vez que a pretensão anunciada não é fixar o câmbio ou impedir a
fuga, mas reduzir a volatilidade, o mais sensato seria retomar o IOF temporário
do capital especulativo.
A alternativa já adotada em riscos cambiais anteriores
não foi mencionada por Goldfajn na entrevista coletiva.