Brioches


Opinião

O cantarolar bem humorado dos exemplares de mulheres bem sucedidas dos setores público e privado é o retrato humanizado de uma das grandes chagas nacionais. A alienação da elite.

Poderia se passar por forma louvável de luta com leveza por igualdade e empoderamento das mulheres, elogiável diante da realidade de crescimento de registros de casos de violência contra a mulher e manifestações de descontentamento de diferenças salarias entre os sexos.

Mas está no vídeo em coro com Alcione a nata da nobiliarquia resistente em Brasília. Carmen Lúcia, Laurita Vaz, Raquel Dodge, além de Rosa Weber e cia. têm nas mãos tudo o que mantém a plebe em alongada sofreguidão. Da legalização do aborto à importação do canabidiol, da fronteira com a Venezuela à privatização da Eletrobras. Além das regras do mais conturbado processo eleitoral desde a redemocratização.

A vida não é só ferro e fogo, mas os gorjeios das meninas com os superpoderes do emprego vitalício, duas férias por ano e capacidade de decidir sobre os próprios salários, nesta conjuntura, soa a flagrante da farra dos guardanapos em Paris da turma do Cabral.

É inescapável imaginar que cada qual saiu em um veículo, com motorista, bancado pela turma aconselhada a não deixar morrer o samba. Quem sabe, oferecendo uma carona à artista e à grande empresária Luiza Trajano.

A informalidade tornou-se linguagem obrigatória nas ferramentas de marketing pessoal. A espontaneidade natural ou programada pode pegar muito bem. Mas, também, muito mal. A ferramenta é nova, mas o conceito é antigo: não se deve oferecer brioches quando falta o pão, ainda mais numa segunda-feira à tarde.