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Política

Entre os eleitores de Bolsonaro, 53% afirmam não mudarem o voto. O que significa que o candidato tem efetivamente 14,84% do total de eleitores. O ex-capitão deveria ser o legítimo representante do autoritarismo, não mais que isso, até pela ausência de propostas consistentes de governo.
O vazio leva a crer que praticamente a metade dos que optam por ele o faz por falta de alternativas à direita, seja por convicção ideológica, seja por rejeição à esquerda.

A ascensão do extremista identificado com o nazismo espelha o cenário político desde a redemocratização. Não há entre os 35 partidos oficialmente registrados no país algum que se possa dizer representante legítimo do ideário de direita. 

As siglas deste segmento são marcadas por bancadas de interesses específicos de alguns setores, como a ruralista, a evangélica, de empresários ou do mercado financeiro, que vez ou outra se alinharam contra propostas dos governos petistas, mas foram incapazes de articular uma plataforma e dialogar com a sociedade.

A Decadência dos moderados


O comportamento fisiológico, além das implicações nas denúncias de corrupção ajuda a clarear o porquê da direita moderada, encarnada na figura do candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, não arregimentar quantidade relevante de simpatizantes mesmo no estado de São Paulo. A associação ao chamado Centrão, indicam os números, fez mais mal do que bem à sua candidatura.

 O candidato do PMDB, Henrique Meirelles, não pescou esta fatia da população por razões óbvias. Além de atrelado a um dos governos mais impopulares da história, a persistente estagnação econômica e a defesa de medidas impopulares nas reformas detonaram suas pretensões.

Abriu-se uma avenida para o crescimento do Novo, de João Amoêdo. As teses liberais preencheriam lacunas no cenário político brasileiro e atualizariam o debate ideológico para o que tem o corrido o planeta.

 No entanto, seus mentores foram incapazes de apresentar ideias que extrapolassem o meio onde foi criado, o mercado financeiro. Misturou-se ao velho abraçando bandeiras conservadoras nos costumes por oportunismo, afastando a possibilidade de atrair a parcela capitalista identificada com propostas chamadas de progressistas, como paridade salarial entre os sexos, relações homoafetivas, aborto, etc..., como acontece com o Partido Democrata dos EUA.

Em defesa da privatização, que por si só não expressa projeto de governo, chegou a soar pueril a proposta de sortear entre famílias carentes vouchers para que os filhos pudessem frequentar escolas particulares como meta de extinção paulatina do ensino público.  

A curva de Bolsonaro


Até o atentado cometido em Juiz de Fora, os levantamentos apontavam para a cristalização em torno de 20% para o candidato do PSL. A consolidação se daria entre 15% e 18%, a meu ver, pela debilidade da união histriônica entre ultraliberalismo e fascismo. A exposição da falta de projeto de governo e ideias que sustentassem a preferência do eleitorado ao longo da campanha deveria provocar a queda.

Se a facada não catapultou substancialmente o candidato por comoção, foi providencial para blindar Bolsonaro contra o despreparo. Ele, que já ensaiava se abster de debates e entrevistas, encontrou motivo mais que justificado para manter-se flutuando na superficialidade das frases feitas.

O barulho criado por sua militância faz o resto do trabalho até aqui. O comando da campanha se engalfinha em torno das aparições desastrosas do vice, general Mourão, e de um plano econômico, ao que parece, rabiscado às pressas.

Paulo Guedes, o Posto Ipiranga, afastara-se também do debate, mas, pressionado pela liderança no último Ibope, soltou a recriação da CPMF, rechaçada imediatamente pelo candidato.
A probabilidade de queda é ainda alta. Mas depende mais da eficácia dos adversários em desconstruí-lo.

A ascensão de Haddad

A curva de crescimento do candidato do PT era esperada e não espantaria se alcançasse 30% do eleitorado.

 Os 10% a mais do apurado pelo Ibope, no entanto, depende do desempenho do nome abençoado por Lula. É fato que deve “amassar mais barro” e explicar melhor seu plano de governo. As primeiras movimentações do candidato depois de oficializado parecem corretas.

Ao mesmo tempo em que busca a identificação com Lula junto aos mais pobres, trama discurso palatável ao topo da pirâmide. Pode trombar com correligionários e militantes no caminho, mas mira com razão eleitores que o tucano deixou escapar para Bolsonaro.

Dependendo do grau de inclinação e do sucesso da empreitada, deixa espaço à esquerda para Ciro Gomes. De acordo com a pesquisa, só entre os que já declararam voto em Haddad de forma não definitiva, 10% do total dos válidos estão suscetíveis à migração para o pedetista, fora os indecisos e as possíveis defecções de outras candidaturas.

Nestas eleições, em que as surpresas se escondem a cada esquina do quarto de hora, mesmo que não surjam grandes sustos, muito pode mudar.