Ópio no povo

Política


Silvio Santos empenhou o próprio nome na estratégia até aqui bem sucedida de blindagem da figura de Bolsonaro sobre sua capacidade e intenções, através de conflitos no campo dos costumes.

A repercussão de suas atitudes em relação à cantora Cláudia Leitte é um sucesso. Se não há onda favorável ao apresentador, as opiniões em contrário bastam para ver que distrair a opinião pública com questões comportamentais ainda funciona.

A grosseria cometida não é irrelevante, ao contrário. A eficiência da artimanha depende de episódios chocantes. Há calor bastante no caso para manter aquecido o discurso rancoroso entre conservadores e progressistas.  

O engenhoso entrelaçamento das ferramentas dos assédios sexual – “ me excita” –  e moral -  repúdio à roupa da artista -  é condenável até por se dar no momento inoportuno da ação de solidariedade filantrópica.

Embora não tenha declarado apoio explícito a candidatos, a cantora manifestara em shows recentes repulsa a misoginia e homofobia. A situação sugere uma emboscada.

A condução do diálogo, em que Leitte mal podia iniciar uma frase, afunila ao dilema da adequação do vestido curto e colado ao corpo usado na apresentação. 

O que SS pensa sobre o assunto é expresso cotidianamente há décadas, por meio de convidados e dançarinas que ornam seus programas de auditório, ancorados por ele ou outros.

 Seu apreço pelos governantes em mandato, qualquer que seja, é conhecido de longa data. A gratidão aos militares é histórica e ainda viva. O Teleton sucede a tentativa de recuperar o slogan do período ditatorial “Ame-o ou deixe-o” quatro dias antes.

O alinhamento a governos integra a memória da imprensa nacional. Não é gratuito. Mensurar o valor da marca Silvio Santos agregada a um governante eleito cujos projetos são mantidos na profundidade de um tuíte seria mais proveitoso.

Está claro que da caduquice ou chauvinismo ele passa longe. Mantém-se é muito afiado no ofício de entorpecer o telespectador.

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