Burrice de menos, estupidez demais

A linha divisória entre a convicção e a teimosia é a quina de um degrau do qual Dunga não é o primeiro técnico da seleção brasileira a cair. Ele seguiu a linha de seus modelos, Parreira em 2006 e Zagallo em 1998. Assim como os precedentes, acreditou que um lampejo poderia apagar uma série de más atuações de alguns jogadores, como fez com Luis Fabiano, por exemplo. Se a falha na escolha do banco de reservas é inquestionável, também é inegável que montou um time vencedor. Escorado em Kaká. Fora das condições ideais na Copa, o atacante se tornou a quina escorregadia do degrau.
Crucificar Dunga pela inacreditável amarelada da equipe no segundo tempo é prematuro. A seleção já jogava mal antes de tomar os gols. Aliás, só os tomou porque jogou mal. O que aconteceu no vestiário durante o intervalo ainda está por ser revelado e pode explicar o resultado da partida, uma vez que a Holanda não alterou de forma significativa seus planos. Quem falou, o que falou, e, principalmente, como falou, me deixa curioso.
Taticamente, Brasil, Alemanha e Holanda são iguais. Dunga não foi inexperiente, foi teimoso. A recepção do agora ex-técnico no país mostra que boa parte dos torcedores entende desta forma. Há coro pela saída dele, mas não pelos gritos de “burro”.
As ruas respeitaram as conquistas da Copa América e das Confederações, além do elogiável desempenho nas eliminatórias. A CBF, não. Em apenas duas linhas comunicou pela internet a destituição da comissão técnica que, com os resultados, tornou os agasalhos da seleção tão poluídos quanto o macacão de um piloto de corrida. Foi uma resposta grosseira à declaração do treinador de que conversaria depois com Ricardo Teixeira.
O futuro do comando da seleção foi traçado no embate de Dunga com a imprensa. Independia da conquista do hexa. Mas a estupidez do ato foi uma humilhação com o único efeito de prestar satisfações a alguns amigos do presidente da confederação.