Embaixador da indignação


“Como não enxergamos o outro, o outro não nos vê. Assim acumulamos nosso ódio.”  O trecho do discurso de Luiz Ruffato na abertura da Feira do Livro em Frankfurt  foi um passinho à frente no aprofundamento da tal cordialidade brasileira consagrada por Sérgio Buarque de Hollanda.

O escritor chacoalhou a bagaça, como diriam os excluídos sócio-culturais lembrados por ele na Alemanha.  Em poucas linhas, impeliu o público a vaiar Michel Temer,  provocou a reação de Ziraldo, irritou Nélida Piñon e deixou Paulo Coelho ainda mais enciumado.

É a representação humana dos movimentos que tomaram as ruas. Tornou-se o embaixador da indignação latente brasileira.

Para o público interno, foi mais impactante que o discurso de Dilma sobre a espionagem. Vai alimentar por um bom tempo os chás da Academia Brasileira de Letras.

Bebeu da fonte do Movimento Verde, viu o que viu Humberto Mauro, respirou Murilo Mendes. Transpirou em Frankfurt com a concisão de Drummond de Andrade; como ele, sem perder a ternura.

Deixa com vontade de correr pra livraria.

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