Grande pequenino


Dener, creio, foi o último menino que nasceu grande de futebol e continuou menino pela grandeza do futebol paulistano que teimava nas rebarbas da capital. Filho e espírito santo de uma escola amadora, amadora de futebol como só Pequeninos do Jóquei restou até claudicar aos pequeninos de futebol e grande agenciadores de jóquei. Do tipo que entre centenas de garotos, só enxergava três, sem perder nenhum de todos:

 - Vai, menino, faz!

- Faz, menino, vai!

- Vai e faz, menino!

Da terceira ordem aconteceram atletas dedicados, como Fábio Santos.

Da segunda, os boleiros, capazes de adaptar a disciplina ao talento, como Zé Roberto.

Da primeira, os artistas, carentes do ombro que lhes impede de perder a trilha.

Para quem não viu ou não se lembra, Dener foi a interseção impossível de Kaká e Romário, talvez Ronaldo e Neymar.

Não o vimos mais  porque o grande do jóquei deu as costas, afrouxou o cinto, que caiu do ombro e apertou a garganta do pequenino aos 23 anos de idade.


O jogador, ainda da Portuguesa, chegara recentemente ao Vasco depois de emprestado ao Grêmio-RS. Estava sendo negociado com o Stuttgart, da Alemanha. Por isso, ou também pelo fato, o cartola cruzmaltino não se viu na obrigação de fazer um seguro de vida para o atacante.
A justiça condenou o clube carioca pelo erro.
O presidente do Vasco cumpriu apenas parte da pena pagando a parcela que cabia à Portuguesa, restando a penúria à viúva e aos três filhos, sob alegação dos dois clubes de que a mulher com quem vivera 4 anos e tivera os herdeiros não era oficialmente casada com Dener.

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